terça-feira, 20 de dezembro de 2011

ATRIBUTOS DO CENTRO




Rua Floriano Peixoto - Fortaleza/Ceará/Brasil

  
Por Joaquim Cartaxo

O centro é uma localização em que todos podem se reunir no menor tempo com mínimo esforço possível e sua produção socioespacial ocorre de maneira simultânea com o não-centro marcada pela contradição entre as necessidades de aglomeração e de afastamentos indesejados, mas obrigatórios, de um ponto onde todos desejariam se localizar. É neste lugar que surge o centro de uma aglomeração.
Outra característica típica de centro é a centralidade econômica por ser o lugar produzido pela economia de mercado ao concentrar a maior quantidade de atividades comerciais e de serviços, quando comparado a outras áreas da cidade. Há, ainda, seu alto grau de acessibilidade.
Dotado dos atributos de concentração de atividades, amplas condições de acessibilidade e lugar onde todos podem se reunir no menor tempo e esforço mínimo, o centro constitui-se como o maior ponto de atração e atendimento de consumidores da cidade. Tal fato intensifica a competição por sua ocupação, gerando problemas de encarecimento do preço da terra e congestionamento espacial, os quais são compensados pela centralização que os produz.
Ao deslocarem-se espacialmente para utilizar o centro e o não-centro, as pessoas despendem tempo e energia. As localizações próximas ao centro possibilitam a diminuição desse desgaste, mas seu usufruto ocorre de forma desigual, pois o poder político e socioeconômico para disputar essas localizações e as condições de deslocamento das pessoas não são os mesmos. Logo, os segmentos sociais mais poderosos tendem a vencer a disputa pela escolha das localizações segundo seus interesses.
Além da centralidade econômica e da circunstância locacional, o centro de uma cidade possui os seguintes atributos, ainda: centralidade política e cultural simbolizada pelos equipamentos governamentais, religiosos, de lazer e entretenimento; marco histórico de surgimento da cidade, a partir do qual essa se expande.

Joaquim Cartaxo é arquiteto e mestre em planejamento urbano e regional.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

CONTRIBUIÇÃO AO DEBATE POLÍTICO E PROGRAMÁTICO SOBRE FORTALEZA 2012






Por Joaquim Cartaxo


1. TUDO PELO PT

Em 2012, por volta de 136 milhões eleitores elegerão prefeitos e vereadores em mais de 5.000 municípios brasileiros, onde oportunidades, desafios, contradições e problemas socioeconômicos das pessoas podem ser equacionados; onde se gera emprego, se proporciona mobilidade, moradia, lazer, educação, saúde e cultura para a população; onde as pessoas lutam para conquistar melhores condições de conforto e de bem-estar. Ou seja, é onde se vivencia o cotidiano que temos interesses e necessidades a serem atendidos.
Ações e projetos dos governos federal e estaduais são importantes para a produção dessas condições, entretanto sem a participação do município essas condições não se realizam; portanto, o governo da cidade é fundamental.
Evidencie-se que no estado de direito democrático, o acesso aos governos ocorre por meio de eleições vencidas por aqueles que, organizados em partidos políticos, conquistam a maioria do voto popular. Como o governo da cidade é indispensável na possibilidade da melhoria das condições de vida da população, a escolha de prefeitos e vereadores passa a ser primordial, consequentemente.
Associa-se a isso que, também para os partidos, a eleição municipal assume um caráter especial em função da luta ideológica e política que ocorre entre os projetos em disputa de hegemonia na sociedade. Nesse sentido, a eleição municipal pode significar, dependendo do seu nível de debate, o fortalecimento dos partidos, lançando ou não candidaturas, mas principalmente apresentando ao debate, ideias e propostas que visem a melhorar as circunstâncias de vida e de trabalho da população e, principalmente, demarcando seu campo ideológico.
Dadas essas características, as eleições de 2012 são prioritárias para o PT e seu projeto em andamento no País. Por isso, a tática eleitoral nacional do partido orienta que em cada município a centralidade será “tudo pelo PT”, a qual se traduz na busca de protagonizar os movimentos políticos de cada cidade, mobilizando sua militância e sua base social. Ao mesmo tempo, negociando adequadamente essa tática com as forças democráticas, populares, progressistas e socialistas, respeitando as necessidades e os interesses políticos de cada uma.
Para tanto, o PT precisa aprofundar os canais de diálogo com sua base social e ampliar os instrumentos de envolvimento de sua militância e de seus simpatizantes de modo a fortalecer sua tática eleitoral, suas propostas do modo petista de governar e atrair as forças mencionadas para o nosso projeto que, de acordo com várias pesquisas, detém uma ampla maioria preferencial na sociedade brasileira em relação aos demais partidos brasileiros, em todos os setores sociais.
Soma-se a isso, a expressiva aprovação popular da presidenta Dilma Rousseff e do seu governo, confirmando nossas expectativas de continuidade e aprofundamento das mudanças políticas, socioeconômicas e culturais desenvolvidas pelo governo do presidente Lula.
Quanto à oposição, experimenta profunda crise de identidade e se move confusamente. Entretanto, a dispersão e a fragilidade dos oponentes não deve ser motivo para subestimá-los, pois representam setores consideráveis da classe dominante, controla o poder em vários estados e tem a seu lado importantes aparelhos de poder como as grandes empresas de comunicação, por exemplo.
Em 2010, o PT disputou a presidência da república com uma tática que possuía duas prioridades: eleger Dilma presidenta e ampliar a bancada de senadores do PT e dos partidos aliados. Avaliava-se que de nada adiantaria eleger governadores sem eleger a presidência da república, pois comandar o governo federal era fundamental para prosseguir aprofundando as reformas e mudanças realizadas pelo governo Lula.
Assim, o diretório estadual do PT/Ce aprovou como tática eleitoral: eleger Dilma presidenta; apoiar a reeleição do governador Cid Gomes; continuar ocupando a vaga de vice-governador; e para o senado defendia a chapa Pimentel e Eunício.  Além disso, rechaçava coligação formal ou informal com o PSDB. Diante dessa tática clara e objetiva, os partidos aliados se reposicionaram no cenário político estadual.
Os resultados estaduais foram a reeleição do governador Cid Gomes no primeiro turno, a eleição dos senadores José Pimentel (PT) e Eunício Oliveira (PMDB). Nesse passo, o campo das forças populares, socialistas e progressistas, que se expressam no PT/PSB/PCdoB/PMDB, saiu das eleições com mais força para, alinhado com o governo da presidenta Dilma, continuar a implantação o projeto democrático e popular.
Agora, o desafio é manter a unidade desse campo no processo de disputa das eleições de 2012 em que ao PT caberá o papel de protagonizar a gestão das contradições e compartilhar as medidas que atendam aos interesses locais em jogo, sem prejudicar os objetivos estratégicos do projeto democrático e popular.

2. FORTALEZA: PRINCIPAL CENTRO DE DISPUTA ELEITORAL

Nas eleições municipais de 2012, o principal centro de disputa eleitoral no Ceará continuará sendo a cidade de Fortaleza. Centralidade decorrente de ser o polo irradiador da geopolítica estadual em que se destaca a sua posição de terceira metrópole do país em influência, segundo o IBGE; de congregar 1/3 da população total e o maior colégio eleitoral do estado; de concentrar 65% do Produto Interno Bruto (PIB) e, consequentemente, de ser o maior centro econômico, financeiro e gerador de emprego e de renda estadual.
Esses aspectos socioeconômicos marcam a centralidade de Fortaleza e indicam que um projeto para o Ceará necessariamente passa por um projeto para Fortaleza. A conjugação política desses dois projetos está em fase de adequação e consolidação a partir dos governos Cid Gomes e Luizianne Lins em consonância com o projeto nacional, agora sob o comando da presidenta Dilma.
Para além da disputa eleitoral, à influência socioeconômica estadual e regional de Fortaleza soma-se a condição de mais importante território de disputa de hegemonia política do Ceará. Portanto, o lugar onde ocorre com maior grau de acirramento as disputas das oportunidades e a administração das contradições políticas e ideológicas do projeto democrático e popular em implantação no Brasil, no Ceará e em Fortaleza.
Projeto que se inicia no plano federal em 2003, com o presidente Lula; no ano de 2005 em Fortaleza com Luizianne Lins, reeleita em 2008, e em 2007 com Cid Gomes, reeleito em 2010. Portanto, a partir de 2007, há uma conjunção dos governos federal, estadual e municipal de Fortaleza, em torno de um mesmo projeto compartilhado pela aliança política formada pelo bloco partidário PT/PSB/PCdoB/PMDB que em escalas e dinâmicas diferenciadas se opunham ao projeto neoliberal do PSDB/DEM/PPS, que governou o Brasil de 1995 a 2002.
Em Fortaleza, o maior desafio do PT será garantir a unidade política dessas forças nas eleições de 2012 de modo a aprofundar as transformações sociais e econômicas que a cidade vem experimentando em consonância com o Estado e o País.
Para vencer esse desafio, a direção do partido precisa aprofundar o diálogo com todas as forças internas no sentido congregá-las, consolidar e fortalecer a unidade partidária. Ao mesmo tempo, como um dos resultado desse diálogo, elaborar as diretrizes básicas para governar Fortaleza na sua dimensão de metrópole regional, dimensão que tende a se ampliar e aumentar sua área de influencia territorial, socioeconômica, política e cultural em que o setor de comércio e serviços cumpre um papel determinante em seu crescimento econômico.

3. FORTALEZA, METRÓPOLE REGIONAL

Conforme mencionado, estudo do IBGE - denominado Cidades que Influenciam e publicado em 2008 - indica que  Fortaleza é a terceira metrópole brasileira em influência o que significa mais de 20 milhões de pessoas buscando o atendimento de seus interesses e necessidades na capital cearense. Além do Ceará, essas pessoas são originárias dos estados que conformam um território que se estende do Rio Grande do Norte até o estado do Amazonas.
Essa dimensão de metrópole regional é por demais importante ao se propor uma política urbana para Fortaleza. Uma cidade prestadora de serviços e com atividade de comércio de grande porte, tanto no seu centro antigo como nas novas áreas de centralidade como Aldeota, Montese, Bezerra de Menezes e Washington Soares, por exemplo.
Assim, a política urbana de Fortaleza precisa ser pensada e praticada com base na geografia de oportunidades que esse poder de influência oferece. O incremento socioeconômico dessas oportunidades é decisivo para a geração de emprego, renda e receita pública.
Emprego, renda e receita pública são um tripé de sustentação para priorizar a realização de políticas, programas, projetos e ações sociais que visando a erradicação da pobreza extrema.
É nessa capacidade de influência regional de Fortaleza que encontramos as oportunidades para equacionarmos as necessidades socioeconômicas da capital do Ceará.
Apoiar, valorizar e promover as atividades econômicas com condições socioambientais sustentáveis requer a avaliação das potencialidades presentes e ocultas, a explicitação dos fatores restritivos ao desenvolvimento e a mobilização dos sujeitos políticos e sociais na perspectiva de ampliar o alcance dos fatores potenciais e, ao mesmo tempo, superar os que causam restrição ao desenvolvimento sustentável.
Planejar e gerir o desenvolvimento das cidades, portanto, implica identificar e avaliar os fatores de produção (capital social, capital humano, capital financeiro, conhecimento, pesquisa e desenvolvimento, informação e instituições) internos e quais os que são necessários obter, externamente ao território urbano. A preponderância dos fatores internos em relação aos externos tende a gerar melhores condições de se alcançar uma dinâmica equilibrada de desenvolvimento.
Medir o potencial e as restrições ao desenvolvimento significa estimar a capacidade da sociedade de organizar e de operar a mobilização dos fatores produtivos disponíveis em seu território. Na prática, os sujeitos políticos e sociais precisam articular e integrar as dimensões política, social, cultural e econômica em que os valores, instituições locais e os fatores produtivos devem ser organizados e mobilizados de modo a atender aos interesses e às necessidades da cidade.
Tal procedimento objetiva efetivar políticas de fortalecimento e qualificação do potencial da cidade, no sentido de consolidar o desenvolvimento urbano como estratégia de produzir condições sociais, econômicas, culturais, ambientais e territoriais capazes de suportar com sustentabilidade a geração e a atração de novas atividades produtivas.
Na produção dessas condições, há ações tradicionais de linhas de crédito, de incentivos fiscais, de investimentos na formação bruta de capital fixo dentre outras. Todavia, a prioridade do desenvolvimento sustentável é manter e ampliar o estoque de capital social da comunidade, por meio da valorização e do fortalecimento da auto-organização social, do incentivo à prática de soluções colaborativas para problemas comuns, do estímulo à participação popular e à ampliação do diálogo com os diversos integrantes das comunidades locais e regionais. Portanto, trata-se de constituir um amplo movimento de formação de comunidades colaborativas e participativas compostas por pessoas que elevam a importância do trabalho coletivo, bem como se encontram preparadas para a mudança e a inovação.
Sob essa compreensão, o governo municipal deve redirecionar sua atuação no sentido de fortalecer potencialidades, fomentar capacidades locais com base em políticas de coordenação e promoção de iniciativas socioculturais e socioeconômicas que conjuguem capital social com as práticas colaborativas que produzam inovações.
Assim, a gestão e o planejamento do desenvolvimento  sustentável requerem dos sujeitos políticos e sociais (órgãos públicos, sindicatos, cooperativas, associações comunitárias e profissionais, dentre outros) em suas regiões, bairros e comunidades a constituição de novos pactos socioeconômicos e arranjos institucionais com o objetivo de mobilizar o potencial produtivo e os recursos locais. Contabilize-se ainda a mobilização dos recursos externos que são importantes como complementos da dinâmica da sociedade local.
Compartilhados dessa maneira, os esforços locais e externos para atrair investimentos públicos ou empreendimentos privados passam a ser promovidos com a participação ativa dos sujeitos locais.
Na construção do desenvolvimento de uma cidade democrática e sustentável, o principal agente de transformação social e econômica é a sociedade com suas formas de solidariedade, integração e cooperação social que possibilitam o equacionamento dos conflitos de interesses por meio de pactos políticos estabelecidos temporalmente.
Logo, esses pactos alcançam sucesso ao se priorizar a valorização da participação da sociedade fortalecendo a capacidade de cooperação de seus sujeitos políticos e sociais por meio de instituições e de formas voluntárias produzidas ou em estado latente que garantem um desenvolvimento sustentável.
Em suma, as articulações políticas internas e externas têm necessariamente que ser realizadas com os partidos, mas é preciso também envolver os sujeitos sociopolíticos que conformam a sociedade civil e buscar consolidar uma maioria política comprometida com escolhas socioeconômicas de transformação mais profunda da sociedade; inovar o movimento de ampliação de oportunidades, de superação dos desafios do processo de desenvolvimento, de melhoria das condições de vida e trabalho dos fortalezenses sem medo de enfrentar as contradições pessoais e coletivas presentes nas ideias e nas práticas da luta social, política e institucional do dia a dia.



Joaquim Cartaxo Filho é arquiteto e vice-presidente do PT/Ce