sábado, 31 de agosto de 2019

ECONOMIA DE TERREIRO

Joaquim Cartaxo




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A Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento - UNCTAD classifica as indústrias criativas como ciclos de criação, produção e distribuição de produtos e serviços que utilizam criatividade e capital intelectual como insumos primários. Comumente, tais indústrias estão relacionadas em quatro grupos que reúnem atividades criativas de acordo com suas peculiaridades: patrimônio (expressões e locais culturais tradicionais), artes (visuais e cênicas), mídia (editoras, mídias impressas e audiovisuais) e criações funcionais (design, novas mídias e serviços criativos).


Valendo-se da capacidade humana abundante de criar, a economia criativa consolida-se e se expande, no século 21, como forma de trabalho e obtenção de renda em todo o mundo. Assim sendo, o Brasil dispõe de ativos e oportunidades imensuráveis de desenvolver esta economia, dado os diferentes povos e culturas que geraram o povo brasileiro. Grife-se aqui que é inconteste a densidade do povo africano para a constituição da matriz cultural e social brasileira.


As formas e as inteligências africanas estão presentes nas linguagens culturais de maneira múltipla: literatura, música, dança, moda, gastronomia, religiosidade. Tudo isso é matéria prima para a realização de inúmeros negócios criativos e culturais em setores diversos.


Os terreiros de candomblé possuem imenso vigor para formalização destes negócios, pois se estabelecem como polo mobilizador da economia local, além da religiosidade. Negócios relacionados com gastronomia, produção e comércio de roupas e adereços, instrumentos musicais, banhos de ervas, utensílios são constituídos para prover as atividades dos terreiros. Consequentemente, há geração de trabalho e circulação de dinheiro. 


Entidade das mais antigas do gênero no Ceará, a União Espírita Cearense de Umbanda anota mais de 5 mil terreiros no estado. Número que expressa o potencial dos negócios de terreiro, apesar de invisíveis, na economia cearense.
Investir no ambiente dos terreiros requer a organização das pessoas empreendedoras, escalar os negócios criativos e, ao mesmo tempo, desafiar e vencer os preconceitos religiosos e o racismo.


Joaquim Cartaxo é arquiteturbanista e superintendente do Sebrae/CE


Publicado Jornal O Povo, edição de 05/08/2019