quarta-feira, 30 de março de 2011

CONTRIBUIÇÃO AO DEBATE DAS ELEIÇÕES 2012


Joaquim Cartaxo


Em 2012, Fortaleza continuará sendo o principal polo irradiador da geopolítica estadual e de disputa eleitoral no Ceará. Tal circunstância resulta de sua posição de terceira metrópole do país em influência, segundo o IBGE; do fato de reunir o maior colégio eleitoral e 1/3 da população total do estado; de concentrar 65% do Produto Interno Bruto (PIB), portanto o maior centro econômico, financeiro e gerador de emprego cearense.

Esses aspectos marcam a centralidade de Fortaleza e indicam que um projeto para o Ceará necessariamente passa por um projeto para Fortaleza. A conjugação política desses dois projetos está em fase de adequação e consolidação a partir dos governos de Luizianne Lins e de Cid Gomes em consonância com o projeto nacional, agora sob o comando da presidenta Dilma Rousseff.

Para além da disputa eleitoral, ao poder de influência socioeconômico de Fortaleza soma-se a condição de mais importante território de disputa de hegemonia do Ceará; lugar onde ocorre com maior grau de acirramento as disputas de oportunidades e a administração de contradições políticas e ideológicas do projeto democrático e popular em implantação no Brasil, no Ceará e em Fortaleza.

Implantação que se inicia no plano federal em 2003 com o presidente Lula; em Fortaleza no ano de 2005 com a prefeita Luizianne Lins, reeleita em 2008, e em 2007 com o governador Cid Gomes, reeleito em 2010. Assim, a partir de 2007, há uma conjunção dos governos federal, estadual e municipal em torno de um mesmo projeto que politicamente agrega forças progressistas, populares e socialistas, organizadas no PT, no PSB, no PCdoB e no PMDB que em escalas diferenciadas e dinâmicas próprias se opunham ao projeto neoliberal do PSDB/DEM/PPS e que governou o Brasil de 1995 a 2002.

Em Fortaleza, o maior desafio do PT será garantir a unidade política dessas forças e ganhar as eleições de 2012 de modo a aprofundar as transformações sociais e econômicas que a cidade vem experimentando em consonância com o estado e o país.

Para vencer esse desafio, a direção do partido precisa liderar um amplo e profundo diálogo com suas forças internas e filiados no sentido consolidar e fortalecer a unidade partidária. Ao mesmo tempo, da mesma forma e objetivo, dialogar com as forças aliadas do campo democrático e popular.

Como resultado desse diálogo, estabelecer conjuntamente as diretrizes políticas e as estratégias de largo prazo para governar Fortaleza compreendendo a sua dimensão de metrópole regional, dimensão que tende a ampliar sua área e aumentar seu poder de influência territorial, socioeconômico, político e cultural.

Conforme mencionado, o estudo Cidades que Influenciam (IBGE/2008) apresenta Fortaleza como a terceira metrópole brasileira em influência. A primeira é São Paulo e a segunda o Rio de Janeiro. Essa condição significa atender interesses e necessidades de mais de 20 milhões de pessoas que demandam a capital cearense, originárias dos estados que conformam um território que se estende do Rio Grande do Norte até o Amazonas.

A dimensão metropolitana e o poder de influência configuram-se como circunstâncias imprescindíveis na elaboração de uma proposta de política urbana para Fortaleza. Uma cidade em que as atividades de serviços e comerciais, estabelecidas no seu centro antigo e nas suas novas áreas de centralidade como Aldeota, Montese, Bezerra de Menezes e Washington Soares, influem sobremaneira na conformação da sua estrutura urbana.

Enfatizando, a política urbana de Fortaleza precisa ser pensada e praticada com base na geografia de oportunidades que seu poder de influência oferece. É com esse poder que traçaremos os caminhos mais adequados no sentido de equacionarmos as necessidades socioeconômicas da capital do Ceará.

O incremento socioeconômico dessas oportunidades é decisivo para a geração de emprego, renda e receita pública. Emprego, renda e receita pública constituem o tripé de sustentação para se priorizar as políticas, programas, projetos e ações visando a erradicação da pobreza extrema como uma prioridade estratégica.

Uma política urbana que priorize, apoie, valorize e promova as atividades econômicas sustentáveis requer a avaliação das potencialidades presentes e ocultas, a explicitação dos fatores restritivos ao desenvolvimento e a mobilização dos sujeitos políticos e sociais na perspectiva de ampliar o alcance dos fatores potenciais e, ao mesmo tempo, superar os que causam restrição ao desenvolvimento com sustentabilidade socioambienal.

Gestão e planejamento de cidades demandam a identificação e a avaliação dos fatores de produção internos (capital social, capital humano, capital financeiro, conhecimento, pesquisa e desenvolvimento, informação e instituições) e quais os necessários obter no exterior do território urbano. A preponderância dos fatores internos em relação aos exteriores tende a criar um ambiente propício para se alcançar uma dinâmica equilibrada de desenvolvimento.

Medir o potencial e as restrições ao desenvolvimento significa estimar a capacidade da sociedade de organizar e de operar a mobilização dos fatores produtivos disponíveis em seu território. Na prática, os sujeitos políticos e sociais precisam articular e integrar as dimensões política, social, cultural e econômica em que os valores, instituições locais e os fatores produtivos devem ser organizados e mobilizados de maneira a atender aos interesses e às necessidades das maiorias sociais da cidade.

Tal procedimento objetiva efetivar políticas que fortaleçam e qualifiquem o potencial da cidade, visando tornar durável o desenvolvimento urbano como estratégia de produzir circunstâncias sociais, econômicas, culturais, ambientais e territoriais capazes de sustentar novos arranjos institucionais, novas composições sociais e atividades inovadoras.

Há ações tradicionais de linhas de crédito, de incentivos fiscais, de investimentos na formação bruta de capital fixo, dentre outras, na produção dessas condições. Todavia, a prioridade do desenvolvimento sustentável é manter e ampliar o estoque de capital social da comunidade, por meio da valorização e do fortalecimento da auto-organização social, do incentivo à prática de soluções colaborativas para problemas comuns, do estímulo à participação popular e à ampliação do diálogo com os diversos integrantes das comunidades locais e regionais. Nesse passo, trata-se de constituir um amplo movimento de formação de comunidades colaborativas e participativas compostas por pessoas que elevam a importância do trabalho coletivo, bem como se encontram preparadas para a mudança e a inovação.

Sob essa compreensão, os governos devem redirecionar sua atuação na perspectiva de fortalecer potencialidades e fomentar capacidades locais com base em políticas e iniciativas culturais e socioeconômicas que conjuguem capital social com práticas colaborativas que produzam inovações.

Assim, a gestão e o planejamento do desenvolvimento urbano sustentável precisam garantir a participação ativa dos sujeitos políticos e sociais (órgãos públicos, sindicatos, cooperativas, associações comunitárias e profissionais, dentre outros) que atuam nos bairros, distritos, vilas e comunidades na perspectiva da constituição de novos arranjos políticos, socioeconômicos e institucionais com o objetivo de mobilizar o potencial produtivo e os recursos locais.

Compartilhados dessa maneira, os esforços em atrair investimentos públicos ou empreendimentos privados passam a ser promovidos com a participação desses sujeitos nos processos políticos de realização do desenvolvimento sustentável.

Imagina-se a construção de uma cidade democrática e sustentável assim, onde o principal agente e beneficiário das mudanças sociais e econômicas é a sociedade com suas formas de solidariedade, integração e cooperação social que contribuem para o equacionamento dos conflitos de interesses por meio de pactos ou acordos cuja temporalidade é estabelecida caso a caso.

Logo, tais acordos alcançam sucesso quando estabelecem como prioridade máxima valorizar a participação da sociedade, fortalecendo a capacidade de cooperação dos seus sujeitos políticos e sociais por meio de instituições e de formas voluntárias produzidas ou em estado latente comprometidos com o desenvolvimento sustentável.

Em suma. É evidente que no estado de direito democrático a participação dos partidos é necessária para realizar a institucionalização desses acordos ou pactos, mas é claro também que o sucesso disso irá requerer o envolvimento dos sujeitos políticos e sociais que mobilizam a sociedade civil. Portanto, as opções políticas partidárias têm que estar combinadas com os interesses e necessidades desses sujeitos que produzem social e culturalmente o dia a dia da cidade; que constroem e destroem o cotidiano da metrópole em um movimento permanente.


Joaquim Cartaxo é arquiteto, mestre em desenvolvimento urbano e regional e vice presidente estadual do Partido dos Trabalhadores

segunda-feira, 28 de março de 2011

O poder metropolitano

Joaquim Cartaxo

Estudo do IBGE, denominado Cidades que Influenciam e publicado em 2008, aponta Fortaleza como a terceira metrópole brasileira em influência socioeconômica e cultural. Tal posição se manifesta nos 20 milhões de pessoas, originárias dos estados que conformam um território que se estende do Rio Grande do Norte até o Amazonas, buscando o atendimento de seus interesses e necessidades em uma cidade prestadora de serviços e com atividade comercial intensa.

Assim, a política urbana de Fortaleza precisa ser pensada, organizada e praticada com base nesse seu poder metropolitano de influência. É na capacidade de influenciar que encontraremos as oportunidades mais adequadas para equacionarmos o desenvolvimento sustentável
da capital do Ceará.

Traduzir essa política em ações e projetos implica avaliar os fatores de produção (capital social, capital humano, capital financeiro, conhecimento, pesquisa, informação e instituições) e as potencialidades presentes e ocultas; explicitar os fatores restritivos ao desenvolvimento e à movimentação dos sujeitos políticos e sociais na perspectiva de ampliar o alcance dos fatores potenciais e, ao mesmo tempo, superar os que causam restrição ao desenvolvimento sustentável.

A ação dos sujeitos políticos e sociais deve estar centrada na articulação e integração das dimensões política, social, cultural, econômica e ambiental em que valores, instituições locais e fatores produtivos devem ser organizados e mobilizados de modo a atender aos interesses e as carências da cidade.

Em suma: tal procedimento objetiva efetivar políticas de fortalecimento e qualificação do poder de influência da cidade. No sentido de consolidar o desenvolvimento urbano como estratégia de produzir condições sociais, econômicas, culturais, ambientais e territoriais capazes de suportar com sustentabilidade a geração e a atração de novas atividades produtivas.

Joaquim Cartaxo

cartaxo@hurb.com.br

Arquiteto e mestre em desenvolvimento urbano e regional


Fonte: O POVO Online/OPOVO/Opinião

quarta-feira, 16 de março de 2011

O MITO DA IMORTALIDADE

Valton Miranda

O surgimento do mito do herói está estreitamente ligado ao persistente desejo de imortalidade do homem. O poderoso pai primevo que dominava os filhos e possuía todas as fêmeas é assassinado e comido pela enraivecida e enciumada prole que celebra a liberdade na libertinagem do festim totêmico.

A mitologia fundadora da coletividade humana proposta por Freud é confirmada na atualidade pela observação da mentalidade inconsciente coletiva, sempre em busca de um fetiche, dividida entre arrogantes pendências narcisistas enquanto apela ao Messias Salvador. A ideia da “salvação” num outro mundo exprime a necessidade de negar a morte e se identificar com a deidade imortal.

O homem primitivo, entretanto, antes de adorar um deus macho antropomorfizado adorou, segundo todas as mitologias, a deusa fêmea alternativamente punitiva e bondosa como ocorrerá mais tarde com os deuses homens nas diversas religiões. Isso somente foi possível porque o poeta épico, construtor de fábulas e mitos, mentiroso e fingidor pela natureza da sua imaginação, deu nascimento ao herói que a humanidade abraçou como seu ideal de identificação.

O poeta cria a mitologia do herói, cujas façanhas o aproximam dos deuses, mas igualmente dá origem aos engenhos de paz e guerra que irão pressionar a razão histórica em busca do saber infinito. A ideia de infinitude foi posta assim por Arnaldo Chuster (1999): “Considero que a partir de Kant três características tornam-se evidentes a ponto de caracterizarem a modernidade: a crítica (da moral, da política, da religião etc.), a revolução (como instrumento de mudança social, mas, sobretudo como mudança de método de pensamento), a descoberta do duplo infinito (o cósmico e o psíquico)”.

A dupla infinitude instiga concomitantemente o desejo de conhecimento e a arrogância do mítico Ícaro que deseja chegar ao Sol. A ânsia pela imortalidade se encontra desde o início dos registros históricos, mas é o cão deus embalsamador gêmeo de Tot egípcio que reúne os dois elementos: eterniza as múmias e escreve com seu bico de Ibis a história.

O medo da morte é o substrato sobre o qual o desejo de imortalidade finca suas raízes. O temor de não integração ou “terror sem nome” de Bion apresentados pelo infante humano resolve-se quando a mãe nomeia e organiza a angústia. Disso resulta, no desenvolvimento do indivíduo e do grupo, a vontade apolínea de harmonia e saber contrastada com o perigoso impulso orgiástico dionisíaco para a desintegração. Fazer um filho, escrever um livro e plantar uma árvore são considerados desejos normais consentidos à imperiosa deusa da imortalidade.

As academias científicas, literárias, musicais e filosóficas espalhadas pelo mundo criaram toda sorte de rituais para dar àquele que alcançou o reconhecimento, o enganoso sentimento da eternização. Alguns milionários americanos, de modo mais prosaico e pragmático já contratam suas hibernações para renascerem daqui a duzentos anos! O cientista embalsamador de hoje é o deus egípcio de ontem na contradição entre vida e morte.

Valton Miranda se define como militante socialista e psicanalistista freudo-kleino-bioniano com formação prática e teórica nos dois ramos do saber

Fonte:
http://www.valtonmiranda.com.br/2011/01/o-mito-da-imortalidade.html

segunda-feira, 14 de março de 2011

UM FUTURO PARA A PRAIA DO FUTURO

Joaquim Cartaxo

Nas últimas três décadas, a paisagem natural da orla marítima da Praia do Futuro foi transformada com a construção de barracas que funcionam como equipamentos de lazer e entretenimento, em especial nos finais de semana quando são intensamente demandadas por fortalezenses e visitantes tanto de outras regiões do Ceará como de outros estados.

Está ocupação está consolidada e, em sã consciência, é difícil acreditar na viabilidade de uma proposta de demolição das barracas com o objetivo da Praia do Futuro ficar parecida ao que era, no início dos anos 70 do século passado. Nessa época, apenas o “Cristino” e o “Chez Pierre” concentravam a atração dos poucos que se aventuravam a frequentá-la e desfrutar de sua paisagem natural em que predominava dunas em movimento.

A ideia de uma Praia do Futuro sem barracas não resiste à realidade socioeconômica e cultural de Fortaleza; parece coisa de quem não vivenciou esse passado, mas o considera uma maravilha e nem frequenta o presente, entretanto avalia-o como um desastre. Melhor dizendo, não comeu e nem come caranguejo na Praia do Futuro.

Evidencie-se que comer caranguejo nas noites de quinta-feira em Fortaleza surgiu na Praia do Futuro, tornando-se depois algo que se firmou culturalmente do centro à periferia da cidade.

Hoje, as barracas constituem a paisagem construída de Fortaleza e atendem às demandas e aos interesses de milhares de pessoas. Essa circunstância urbana deve ser enfrentada como uma oportunidade de melhoria das condições socioambientais e culturais da Praia do Futuro e não como um problema urbano.

Sem planejamento e controle urbanísticos, o uso e ocupação do solo da Praia do Futuro aconteceu gerando carências de infraestrutura e equipamentos que caracterizam as ocupações espontâneas dessa natureza. Um passo importante na direção de vencer o desafio de superar tais deficiências é pactuar política e socialmente um plano urbanístico que estabeleça ações e projetos segundo uma ordem de prioridades de execução.

A componente controle urbanístico desse plano pode adotar medidas como a imediata demolição das barracas abandonadas, seguida da urbanização das áreas em que estavam construídas por meio da implantação de equipamentos públicos que melhorem a segurança e o conforto dos usuários das atividades desenvolvidas na Praia do Futuro.

Outra medida de controle urbanístico é proibir a construção de mais barracas e as que ficarem será permitido apenas realizarem melhorias necessárias ao desempenho adequado de suas funções de equipamentos de lazer e entretenimento. Portanto, não poderão ampliar sua área construída.

Com a adoção dessas medidas, limita-se o número de barracas e a área construída. Consequentemente, demarca-se as áreas livres.

Na componente melhorias urbanas do plano há necessidade de relacionar obras que melhorem e ampliem o sistema viário, passeios, drenagem urbana, abastecimento de água, esgotamento sanitário, coleta de resíduos sólidos e iluminação pública.

Estratégia de implantação e manutenção dos logradouros e equipamentos são outras componentes imprescindíveis, pois definem a longevidade do plano, os parceiros, as avaliações pós-ocupação, as revisões e as readequações que atendam as atuais atividades e as novas demandas produzidas pela dinâmica socioeconômica e cultural da cidade que é intensa.

Joaquim Cartaxo é arquiteto e mestre em planejamento urbano e regional

terça-feira, 8 de março de 2011

AS MULHERES CONJUGAM

Joaquim Cartaxo


Que verbo conjuga

A mulher mãe de todos os filhos e de todas as filhas?

Que verbo conjuga

A mulher trabalhadora de todos os dias, o dia todo?

Que verbo conjuga

A mulher que nasce, vive e preserva?


Amar conjuga

Sonhar conjuga

Cuidar conjuga

Ousar conjuga

Perseverar conjuga

Alimentar conjuga

Gerar conjuga


As mulheres conjugam a vida