segunda-feira, 2 de novembro de 2015

ALÉM DOS AVIÕES DE CARREIRA


 Por Romeu Duarte
Cena do filme Prometheus de Ridley Scott
 

A cada dia as notícias se amiúdam. Para quem, como eu, há muito acompanha a situação, algo está prestes a acontecer. Não, não se trata de alarmar ninguém, que eu não tenho vocação para Orson Welles. Porém, algum evento grande vem por aí, tenho quase certeza. Infância e adolescência cevadas na ração de Os Invasores, Perdidos no Espaço (“nada tema, com Smith não há problema”), Revista Planeta, science fiction e Erich vonDaniken, não poderia o papai aqui dar em outra coisa. Um imenso anel luminoso sobre a Sibéria. Bolas brilhantes dançando no céu noturno da China. Um objeto em forma de charuto pairando sobre as árvores da Floresta Negra na Alemanha. Uma nuvem estranha parada sobre o sertão brasileiro. E este gato agitado, de olho em mim.

Pois é, assustado e fiel leitor, creio piamente em vida extra-terrestre, em UFOs, em seres alienígenas, em missões interplanetárias, em ETs entre nós, mangando da gente e chupando um din-din de cajá na Praça José de Alencar. Ora, ora, diria o implicante canelau, quem acredita que o Ceará não vai cair da Série B crê em qualquer coisa. Enquanto isso, os infatigáveis e curiosos teóricos da conspiração, que parecem não ter muito o que fazer, acompanham cada passo da colega Curiosity em Marte, analisando e interpretando as fotos que a sonda tira da superfície do planeta vermelho. Aquilo seria uma pedra ou um urso marciano? Uma rocha ou uma nave pronta para decolar? Marcas na areia ou um rosto esculpido? Imaginação demais ou doidice atroz? Por Klingon!

Certa feita, em Quixadá, conheci um sujeito que jurava ter mantido contatos de terceiro grau com a turma boa lá de cima. Mais: teria sido usado e abusado sexualmente por três ninfetas intergalácticas, cada uma mais voraz e sedenta que a outra. “Anote aí, Seu Zé”, disse o homem, “foram três dias e três noites de pau enfiado. Elas eram bem feitinhas de corpo, mas pareciam de plástico. Não falavam, chiavam, era ouvir um rádio fora da estação. E o bom era que os negócios delas lá eram enviesados, não eram como os das mulheres da Terra não”, riu-se ele. “Só dei conta do recado porque comigo é na base da carne de criação e feijão verde”, gabou-se. “Mas fiquei danadinho com elas”, zangou-se, “dei o gás e as éguas nem pagaram o serviço. Pense na sovinagem, macho...”.

De minha parte, nunca vi nada. Anos e anos de vistas postas no firmamento, sem êxito. Dizem que as aparições só se dão para os incrédulos e os ingênuos. Mesmo assim, sigo crendo. Enquanto redijo mentalmente estas notas, um rapaz, no pátio da Escola de Arquitetura, usa simultaneamente um laptop, um i-phone, um tablet e um celular último tipo, além de sapecar a namorada de beijos. Cada vez mais me convenço que eles estão em nosso meio. A questão é saber o que vêm fazer aqui e o que querem de nós. Como explicar o fato de uma civilização avançada sair de sua zona de conforto no espaço sideral e encarar um país que tem a cara do Eduardo Cunha? O que os move, a ciência ou a velha pilhagem? Seriam os deuses astronautas, malandros ou abestados?

Fonte: jornal do O Povo de 2/11/2015