Rio Cocó. Fortaleza, Ceará, Brasil |
Animal produtor
de cultura é a especificidade natural do ser humano. Portanto, adapta-se a distintos ecossistemas,
molda-os com o intuito de atender demandas, “domina a natureza”.
Dominar a
natureza é controverso. Se domina a natureza, o ser humano é não-natureza? Por
outro lado, se for natureza quem o domina, outro ser humano superior?
Sobre essas
questões, o geógrafo Carlos Walter Porto Gonçalves resume: “toda sociedade,
toda cultura cria, inventa, institui uma determinada ideia do que seja
natureza. Nesse sentido, o conceito de natureza não é natural, sendo na verdade
criado e instituído pelos homens. Constitui um dos pilares através do qual os
homens erguem as suas relações sociais, sua produção material e espiritual,
enfim, a sua cultura”
A natureza não é
natural, é cultural. Cada sociedade amplia ou restringe o conceito de natureza conforme
sua visão social e histórica de mundo. Sociedades conservacionistas tendem a
estabelecer o que é natureza de modo abrangente, logo o percentual de
preservação de recursos ambientais será maior do que o percentual das
sociedades não conservacionistas, que classificam a natureza de forma restrita.
Essa dicotomia cultura-natureza repercute sobre a ideia de
sustentabilidade, definida como interdependência entre determinada população
(cultura) e seu meio ambiente (natureza) em que as dimensões econômicas e
socioambientais são consideradas indissociáveis.
Dicotomia que se
expressou na revisão do Código Florestal Brasileiro, em especial no debate
sobre o lugar da linha divisória que define a natureza a ser preservada e a
não-natureza formada pelos “pés de pau” passíveis de serem derrubados
legalmente. Decidir tal lugar é uma disputa política entre interesses
econômicos e necessidades socioambientais.
Debate similar e atual envolve o Cocó: por onde passará a linha que definirá
a não-natureza deste rio, cuja bacia banha 2/3 de Fortaleza?
Joaquim Cartaxo é arquiteto urbanista e
vice-presidente do PT/Ceará
Fonte: jornal O POVO - 17/06/2013