Por Fátima Bandeira
Em Fortaleza, o provável
desfecho da aliança PT/PSB/PMDB/PCdoB vem sendo prenunciado há tempos e apenas
reflete o quadro da cultura política brasileira no que se refere a projetos
partidários. Senão, vejamos: o PSB é um partido de caráter ainda quase
regional, concentrando sua maior força no Nordeste, berço histórico de seu
presidente nacional, governador Eduardo Campos, herdeiro político de Miguel
Arraes e que detém o controle do partido, atrelando um possível projeto partidário
a seu projeto pessoal. Diante disso, as alianças do PSB pendulam da esquerda
à direita, ou ficam no centro, ou em qualquer coisa, como o PSD de Gilberto
Kassab. Inexiste, na verdade, projeto político partidário. E para confirmar
isso basta ver as coligações eleitorais de 2010 que elegeram seus governadores
e as alianças em construção para 2012 com o objetivo de eleger vários
prefeitos, na lógica de fortalecer Eduardo Campos para 2014 e torná-lo um
quadro com dimensão nacional.
O PMDB, que se constituiu
na resistência à ditadura como MDB. Com
a vitória da luta pela redemocratização, viu encerrado seu projeto e foi
descaracterizando-se, tornando-se uma federação de lideranças locais que se
movem segundo seus interesses e necessidades imediatas, sem conseguir constituir
um todo, mesmo que seja em torno do projeto pessoal de um quadro partidário,
como é o caso do PSB. Em cada local, há um diferente PMDB que também se
articula com qualquer espectro ideológico ou sem qualquer ideologia, se é que
isso é possível.
Já o PCdoB, com uma
história construída ao longo de 90 anos pela esquerda e enfrentando rachas
internos vários, nunca conseguiu representar um projeto nacional e não se
fortaleceu como partido de esquerda de massa, ficando sempre atrelado a projetos
outros, em alguns locais com o PT, e em outros com partidos de direita. Sem
definir bem seu espectro de alianças e mantendo um discurso de esquerda, gerou
uma dicotomia política que talvez seja um dos elementos que não o credenciaram
como o legítimo representante de um projeto progressista.
Sem apologia, o PT
processou uma fusão perfeita entre projeto partidário e construção de
lideranças que acabou por constituí-lo, ao longo dos seus 32 anos, como um
partido nacional e representante de um projeto progressista para o Brasil, com
capilaridade no País inteiro e uma consolidada base militante.
Há poucos dias, o
presidente do PSDB e líder da oposição, deputado Sérgio Guerra, ao defender a
unidade interna dos tucanos, ao mesmo tempo em que fazia críticas ao seu
partido, bradava que o PT professava um discurso unificado, tanto no Piauí como
no Paraná, e essa teria sido a estratégia principal para o seu fortalecimento.
Sem entrar no mérito, a colocação de Sérgio Guerra traz um elemento importante
para ser analisado pelos cientistas políticos de plantão.
No Ceará, PSB/PMDB/PCdoB
reproduziram esse comportamento partidário, influenciado pelas questões
estaduais.
O PSB hoje é um partido
liderado pelos irmãos Ferreira Gomes e fortalecido por deter o governo do
estado. Já foi liderado por Eudoro Santana e Sérgio Novais, quadros históricos
da esquerda. O primeiro, originalmente do MDB da luta pela democracia, hoje
está no PT e o segundo, alijado da direção partidária, luta por manter algum
espaço no partido, sem muitas perspectivas enquanto o PSB for governo. Na
condição de governo estadual, o PSB tornou-se um dos maiores partidos do Ceará,
fenômeno natural na nossa história política partidária.
O PMDB já foi
representado por Mauro Benevides e Paes de Andrade, na luta pela democracia.
Hoje, representa o projeto do senador Eunício Oliveira, presidente estadual do
partido, que segundo comentaristas políticos, deseja chegar ao Governo do
Estado em 2014, substituindo Cid Gomes e fará todos os movimentos necessários
única e exclusivamente nesse sentido.
O PCdoB, cuja força
principal é Fortaleza lança novamente o senador Inácio Arruda como candidato a
prefeito por ver seu espaço diminuído ao longo dos anos, principalmente, na
perspectiva de 2014, de vez que uma reeleição de seu senador é uma grande
incógnita. Não se pode esquecer que na eleição de 2006 a candidatura majoritária
de Inácio Arruda foi uma grande queda de braço com Eunício Oliveira, mediada
pelo então candidato a governador Cid Gomes e pelo PT. Mediação que redundou no
compromisso do presidente estadual do PMDB ser candidato em 2010, o que foi
cumprido pelos afiançadores daquela aliança, tendo, portanto, encerrado o
assunto.
O PT, tendo o projeto
nacional como prioritário, liderou a aliança com esses partidos em 2002, 2006 e
2010 negociando alianças estaduais em função desse projeto maior.
Em eleições municipais, o
quadro é sempre diferenciado. Lê-se eleições municipais como o momento de
fortalecimento de partidos em função da representatividade de prefeitos em
eleições majoritárias. Foi assim em 2004, em Fortaleza, quando Luizianne venceu
o encontro municipal do PT e chegou ao segundo turno das eleições, aglutinando,
só então, a base de apoio nacional. Foi assim em 2008, quando várias
candidaturas foram ensaiadas, inclusive da base aliada, embora, ao final, tenha
sido possível manter a aliança formal entre os partidos.
Agora em 2012, o quadro
se repete, agravado pelo fato da prefeita não ter reeleição. A aliança
construída em 2006 no Ceará tinha como base o projeto do PT nacional que se
fundiu naquele momento com um projeto estadual das principais lideranças dos
partidos da base aliada do governo Lula. Não é mais esse o caso. Em 2010 era a
continuidade e, mesmo assim, houve uma grande resistência dos aliados à
candidatura do atual senador José Pimentel, do PT.
Os aliados sempre temeram
o crescimento do PT, reconhecido como o maior partido do País e o primeiro na
preferência dos eleitores. Mantido esse quadro e apesar da oposição - principalmente
da mídia - a tendência é o PT se fortalecer ainda mais. Por que esse
fortalecimento interessaria aos aliados? Parece razoável pensar que esse arranjo
político-partidário se esgotou. E o rearranjo se projeta para 2014, quando Cid
não terá reeleição, portanto qualquer partido poderá lançar candidatos
majoritários e para tanto, precisa estar fortalecido. Pode ser do PT, Eunício,
Inácio ou quem mais quiser e se sentir em condições. Essa disputa está pelo
menos, até agora, centralizada na chamada base aliada e não na oposição ao governo
federal, ainda enfraquecida.
Fortaleza, na geopolítica
cearense, é estratégica tanto pelo percentual de eleitores como pela influência
que exerce no Estado. Portanto, é a joia da coroa estadual. Todos
querem ter esse trunfo em 2014.
Nesse sentido, porque
manter uma aliança que interessa, fundamentalmente ao projeto nacional do PT? É
a hora natural das forças políticas pensarem em rearrumar a casa e o que sair
das urnas em 2012 dirá qual a aliança possível em 2014, na perspectiva da
reeleição da Presidenta Dilma e da eleição do próximo governador.
É disso que se trata como diz um amigo meu.
Fátima Bandeira é jornalista e membro da comissão executiva do PT/Ce.
Fonte: Blog Possibilidade Zero - http://possibilidadezero.blogspot.com.br/