terça-feira, 12 de junho de 2012

UM DESFECHO NATURAL EM FORTALEZA

 
 
Por Fátima Bandeira


Em Fortaleza, o provável desfecho da aliança PT/PSB/PMDB/PCdoB vem sendo prenunciado há tempos e apenas reflete o quadro da cultura política brasileira no que se refere a projetos partidários. Senão, vejamos: o PSB é um partido de caráter ainda quase regional, concentrando sua maior força no Nordeste, berço histórico de seu presidente nacional, governador Eduardo Campos, herdeiro político de Miguel Arraes e que detém o controle do partido, atrelando um possível projeto partidário a seu projeto pessoal. Diante disso, as alianças do PSB  pendulam da esquerda à direita, ou ficam no centro, ou em qualquer coisa, como o PSD de Gilberto Kassab. Inexiste, na verdade, projeto político partidário. E para confirmar isso basta ver as coligações eleitorais de 2010 que elegeram seus governadores e as alianças em construção para 2012 com o objetivo de eleger vários prefeitos, na lógica de fortalecer Eduardo Campos para 2014 e torná-lo um quadro com dimensão nacional.
O PMDB, que se constituiu na resistência à ditadura como MDB. Com  a vitória da luta pela redemocratização, viu encerrado seu projeto e foi descaracterizando-se, tornando-se uma federação de lideranças locais que se movem segundo seus interesses e necessidades imediatas, sem conseguir constituir um todo, mesmo que seja em torno do projeto pessoal de um quadro partidário, como é o caso do PSB. Em cada local, há um diferente PMDB que também se articula com qualquer espectro ideológico ou sem qualquer ideologia, se é que isso é possível.
Já o PCdoB, com uma história construída ao longo de 90 anos pela esquerda e enfrentando rachas internos vários, nunca conseguiu representar um projeto nacional e não se fortaleceu como partido de esquerda de massa, ficando sempre atrelado a projetos outros, em alguns locais com o PT, e em outros com partidos de direita. Sem definir bem seu espectro de alianças e mantendo um discurso de esquerda, gerou uma dicotomia política que talvez seja um dos elementos que não o credenciaram como o legítimo representante de um projeto progressista.
Sem apologia, o PT processou uma fusão perfeita entre projeto partidário e construção de lideranças que acabou por constituí-lo, ao longo dos seus 32 anos, como um partido nacional e representante de um projeto progressista para o Brasil, com capilaridade no País inteiro e uma consolidada base militante.
Há poucos dias, o presidente do PSDB e líder da oposição, deputado Sérgio Guerra, ao defender a unidade interna dos tucanos, ao mesmo tempo em que fazia críticas ao seu partido, bradava que o PT professava um discurso unificado, tanto no Piauí como no Paraná, e essa teria sido a estratégia principal para o seu fortalecimento. Sem entrar no mérito, a colocação de Sérgio Guerra traz um elemento importante para ser analisado pelos cientistas políticos de plantão.
No Ceará, PSB/PMDB/PCdoB reproduziram esse comportamento partidário, influenciado pelas questões estaduais. 
O PSB hoje é um partido liderado pelos irmãos Ferreira Gomes e fortalecido por deter o governo do estado. Já foi liderado por Eudoro Santana e Sérgio Novais, quadros históricos da esquerda. O primeiro, originalmente do MDB da luta pela democracia, hoje está no PT e o segundo, alijado da direção partidária, luta por manter algum espaço no partido, sem muitas perspectivas enquanto o PSB for governo. Na condição de governo estadual, o PSB tornou-se um dos maiores partidos do Ceará, fenômeno natural na nossa história política partidária.
O PMDB já foi representado por Mauro Benevides e Paes de Andrade, na luta pela democracia. Hoje, representa o projeto do senador Eunício Oliveira, presidente estadual do partido, que segundo comentaristas políticos, deseja chegar ao Governo do Estado em 2014, substituindo Cid Gomes e fará todos os movimentos necessários única e exclusivamente nesse sentido. 
O PCdoB, cuja força principal é Fortaleza lança novamente o senador Inácio Arruda como candidato a prefeito por ver seu espaço diminuído ao longo dos anos, principalmente, na perspectiva de 2014, de vez que uma reeleição de seu senador é uma grande incógnita. Não se pode esquecer que na eleição de 2006 a candidatura majoritária de Inácio Arruda foi uma grande queda de braço com Eunício Oliveira, mediada pelo então candidato a governador Cid Gomes e pelo PT. Mediação que redundou no compromisso do presidente estadual do PMDB ser candidato em 2010, o que foi cumprido pelos afiançadores daquela aliança, tendo, portanto, encerrado o assunto.
O PT, tendo o projeto nacional como prioritário, liderou a aliança com esses partidos em 2002, 2006 e 2010 negociando alianças estaduais em função desse projeto maior. 
Em eleições municipais, o quadro é sempre diferenciado. Lê-se eleições municipais como o momento de fortalecimento de partidos em função da representatividade de prefeitos em eleições majoritárias. Foi assim em 2004, em Fortaleza, quando Luizianne venceu o encontro municipal do PT e chegou ao segundo turno das eleições, aglutinando, só então, a base de apoio nacional. Foi assim em 2008, quando várias candidaturas foram ensaiadas, inclusive da base aliada, embora, ao final, tenha sido possível manter a aliança formal entre os partidos.
Agora em 2012, o quadro se repete, agravado pelo fato da prefeita não ter reeleição. A aliança construída em 2006 no Ceará tinha como base o projeto do PT nacional que se fundiu naquele momento com um projeto estadual das principais lideranças dos partidos da base aliada do governo Lula. Não é mais esse o caso. Em 2010 era a continuidade e, mesmo assim, houve uma grande resistência dos aliados à candidatura do atual senador José Pimentel, do PT.
Os aliados sempre temeram o crescimento do PT, reconhecido como o maior partido do País e o primeiro na preferência dos eleitores. Mantido esse quadro e apesar da oposição - principalmente da mídia - a tendência é o PT se fortalecer ainda mais. Por que esse fortalecimento interessaria aos aliados?  Parece razoável pensar que esse arranjo político-partidário se esgotou. E o rearranjo se projeta para 2014, quando Cid não terá reeleição, portanto qualquer partido poderá lançar candidatos majoritários e para tanto, precisa estar fortalecido. Pode ser do PT, Eunício, Inácio ou quem mais quiser e se sentir em condições. Essa disputa está pelo menos, até agora, centralizada na chamada base aliada e não na oposição ao governo federal, ainda enfraquecida.
Fortaleza, na geopolítica cearense, é estratégica tanto pelo percentual de eleitores como pela influência que exerce no Estado. Portanto, é a joia da coroa estadual. Todos querem ter esse trunfo em 2014.
Nesse sentido, porque manter uma aliança que interessa, fundamentalmente ao projeto nacional do PT? É a hora natural das forças políticas pensarem em rearrumar a casa e o que sair das urnas em 2012 dirá qual a aliança possível em 2014, na perspectiva da reeleição da Presidenta Dilma e da eleição do próximo governador.
É disso que se trata como diz um amigo meu.
 
 
Fátima Bandeira é jornalista e membro da comissão executiva do PT/Ce.
 
 
Fonte: Blog Possibilidade Zero - http://possibilidadezero.blogspot.com.br/

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