quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

OPOSIÇÃO: PROCURA-SE


ArquivoPor Wanderley Guilherme dos Santos

Se depender da oposição o País não vai andar. A infantilidade de seus protestos explica o agônico socorro que está pedindo à descabelada desordem urbana. De seu próprio ventre, nada. Criticar a autoridade fiscal, por exemplo, por ter usado tributos e dotações dos leilões para fechar as contas equivale a desancar o quitandeiro porque equilibra o livro-caixa recebendo o que lhe devem. É curial que o governo troca tributação por serviços, administração e projetos. Lá uma vez ou outra parte dos impostos se transforma em subsídios diretos e indiretos ao consumo e às despesas dos grupos vulneráveis. Chama-se redistribuição de renda e vem ocorrendo há pouco mais de dez anos no Brasil. É isso que provoca espuma na garganta oposicionista e a faz perder o senso de ridículo.
 
Nenhuma oposição que se preze tenta condenar um governo por fazer uma parada técnica voltando de longa viagem. Aliás, nem mesmo se fosse para simples recuperação física, independente de considerações meteorológicas ou de segurança de vôo. Pois este foi um dos brados de guerra, sem eco, da semana oposicionista.  

Desdobrar desembolsos no tempo é uma espécie de versão macroeconômica da compra a crédito, o uso calculado da renda e do gasto futuros. A dívida das pessoas deve ser compatível com a proporção comprometida da renda esperada face ao dispêndio incompressível que virá a ter. Trata-se de uma questão de ser ou não leviano em relação à própria economia. E é preciso muita leviandade para que eventuais desmandos, ou desvairada presunção, conduzam à falência. Desde a redemocratização de 1945 foram necessárias décadas dos mais variados governos, inclusive ditatoriais, até que os livrescos sábios do PSDB conseguissem a proeza de quebrar a economia brasileira três vezes em não mais do que oito anos.

Quando as mesmas vozes do passado esgoelam-se em advertências sobre a dívida pública, bruta ou como proporção do produto interno, com que diabos de autoridade pensam estar falando? Não possuem nenhuma imaginação ou criatividade e o bolor das receitas sugeridas tem um só resultado, se aviadas: desemprego. Existe uma crônica morbidez no pensamento conservador que o faz recuar diante da saúde e saudar os sintomas patológicos de vida social. Talvez por isso aplauda a proliferação dos micróbios (pequenos grupos de desordeiros, em geral), sem se dar conta de que estes são a hiperbólica evidência do fracasso oposicionista, ele mesmo.


Mas a pantomima máxima revela-se na busca de recordes. Os furos pelos quais compete a grande imprensa foram transferidos das páginas de esportes e da previsão do tempo para as manchetes, mas com significados distintos.

Excepcionais desempenhos em natação, maratona e salto a distância refletem o aprimoramento físico da espécie, o apuro no treino e a perseverança nos treinos. Já os indicadores de temperatura nos explicam o bem estar ou seu contrário em condições de exacerbado calor ou frio. Por isso comparam números de hoje com os de ontem ou de há dez anos conforme o caso. Mas as manchetes das primeiras páginas são pândegas. Títulos chamativos advertem que aumentou a ameaça inflacionária enquanto o texto explica que houve uma variação para mais no quarto dígito depois da vírgula, algo que não acontecia há dezoito, vinte e três ou não sei lá quantas semanas. Ou seja, o furo jornalístico não quer dizer absolutamente nada.

Pelo andar da carruagem é de se esperar escândalos informando que o desemprego na tarde de quarta feira passada foi o maior já registrado em tardes de quartas-feiras de anos bissextos. Ao anunciá-los os apresentadores de noticiários televisivos farão cara de fralda de bebê, suja.

Enquanto o País muda a pele, subverte rotinas, enfrenta e experimenta uma realidade inédita – a liquidação da miséria extrema – e veloz reestruturação de seus contingentes sociais, o reduto oposicionista balbucia indignações esfarrapadas. E a crítica competente é fundamental para o desempenho de qualquer governo. Quanto a isso, estamos à míngua. A oposição brasileira é rústica como oposição, não está preparada para governar. 


Fonte: http://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Politica/Oposicao-procura-se/4/30145
 

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

DESAFIOS E OPORTUNIDADES





Fonte: Internet
Por Joaquim Cartaxo

Há processos socioespaciais e econômicos que o município não possui controle direto sobre os seus impactos. Exemplos: a urbanização, cuja intensidade gera demandas imensuráveis de moradia, mobilidade, saneamento, oportunidades de trabalho e renda; a disputa pela atração de investimentos públicos e privados que exige recursos humanos mais e mais qualificados, devido à utilização intensiva de conhecimento e informação. Assim sendo, os desafios e oportunidades do desenvolvimento dependem das peculiaridades políticas, espaciais, econômicas, culturais e socioambientais de cada lugar, que são balizadoras das vantagens comparativas e competitivas do município e região em que se insere.
Evidencie-se na atração de investimentos que parceria e consórcio entre municípios apresentam as melhores experiências de geração de oportunidades a partir da diferenciação, articulação, integração e complementação das atividades econômicas, construindo um desenvolvimento que se expressa na diminuição da demanda pelo hospital, no aumento da frequência à escola, na maior participação em atividades políticas e culturais, na ampliação do exercício dos direitos sociais e individuais, na distribuição territorial de população e atividades que proporciona fluxos de pessoas e veículos com conforto e segurança, na garantia da preservação do patrimônio ambiental e cultural.
Para tanto, o município precisa se apropriar da gestão e planejamento do desenvolvimento em que é fundamental qualificar as pessoas para melhor utilização dos recursos; avançar na criação de arranjos institucionais que facilitem a constituição de consórcios públicos intermunicipais, de agências de desenvolvimento, de parcerias diversas; fomentar a formação de fóruns, conselhos e demais institutos que garantam a participação, a transparência e o envolvimento da sociedade na luta pela melhoria das condições de vida material e imaterial.

Joaquim Cartaxo é arquiteto urbanista e secretário de formação política do PT/CE.

Fonte: jornal O POVO de 27 de janeiro de 2014.

FILOSOFIA DE BOTEQUIM


Mercearia e Bar Raimundo dos Queijos

Por Romeu Duarte
À mesa amiga, galhofeira e zoadenta do Raimundo do Queijo, pediram-me uma definição contemporânea de fuleiragem e molecagem, vocábulos tão queridos e praticados nesta Taba de Alencar. Aceitei o desafio da árdua tarefa, mesmo sabendo que gente da estirpe intelectual de um Quintino Cunha e de um Leonardo Mota já tinha navegado com seus barcos de grande calado por essas revoltas águas. “Quem sabe não atualizo as significações desses verbetes?”, pensei com meus botões, que me responderam em uníssono de suas casas: “Pretensiosinho, hein? Fuleiragem de moleque ou molecagem de fuleiro?”. Sorvendo a penúltima, pedi uma semana para dar conta do recado, alegando sua complexidade. “É muita fuleiragem”, disse o cego sanfoneiro.
Em casa, rodeado de dicionários físicos e virtuais, iniciei minha exploração nas selvas dos significados e étimos das duas palavras. Fuleiragem vem de fuleiro, “coisa ou pessoa de baixa qualidade, irresponsável, gaiata”, expressão derivada do calão lusitano “foleiro”, que quer dizer “mau gosto”. Fuleiragem seria então o feito de uma pessoa desqualificada ou então descomprometida, porém amigável. Por sua vez, molecagem é coisa de moleque, que tanto pode ser “menino que vive na rua” quanto “indivíduo sem compostura, indigno de crédito”. Assim, molecagem é arrumação de fedelho danado e também patifaria. Ou seja, dois termos nômades, que vão e vêm de um pólo negativo a outro positivo, curtindo horrores com a cara alheia, alencarinos até a medula.
Mas, para além das letras, há a vida, que a tudo transforma e empresta novos sentidos. Oscilando entre o pejorativo e o esperto, a fuleiragem pode se constituir numa tremenda sacanagem, em algo sem valor aparente ou numa brincadeira desobrigada de razão. Um pacote de chegadinha, a topic que vai lotada para Messejana, a quentinha de frango com baião comida no sol quente, uma piada da Rossicléa, os CDs piratas do Buraco da Jia são tão fuleiragens quanto a passarela metálica furreca defronte ao Centro de Eventos, a butique com nome estrangeiro impronunciável no Meireles e o vinho de marca misturado com o rango xing-ling. Fuleiragem é substantivo que é ruim e bom ao mesmo tempo, depende do prisma, tudo vale a pena se a alma não se aliena.
Já a molecagem, penso, está mais para o verbo, o ato de realizar a baixaria, odiosa para quem a sofre, agradável para quem dela sorri, fundamental para quem sobre ela reflete. Que o diga o Astro-rei, que em janeiro de 1942, por ter frustrado quem esperava uma copiosa chuva na Praça do Ferreira, foi vaiado com estrépito por um grupo de circunstantes, todos certamente moleques, alguns até de idade avançada. Acolher com sarcasmo as tragédias do cotidiano, nossa marca registrada, é costume que refinamos ao longo do tempo, para o bem e para o mal. Damos fé disso tanto na dança do jumento encenada pelo Falcão quanto na gaitada movida a uísque do bacana atolado até o pescoço no podre escândalo dos banheiros. Afinal, o Cine Holliúdi é aqui.
Haveria semelhanças, pontos de contato entre essas duas palavras? Que critérios usaremos para abrigar nos espaços que constroem, com suas sonoridades, coisas e ações recentes tais como a adutora quengada de Itapipoca, os dólares na cueca do assessor parlamentar, os viadutos e a “colcha de retalhos” do Parque do Cocó, os políticos inimigos figadais no passado e hoje de mãos dadas, trocando beijinhos? Atarantado, encontro-me mais confuso e menos sabido do que no começo. Em algum ponto, perdi-me na determinação do in e do out dessa história toda, ofício, aliás, safado e sem futuro. É, parece que não conseguirei cumprir o meu intento. Candidato a bater fofo com a turma boa da Travessa Crato, mais um moleque fuleiro na praça.

Fonte: jornal O POVO, edição de 27 de janeiro de 2014.

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

O HERÓI DE SI MESMO


Por Romeu Duarte
 
Depois de trinta e cinco anos de batente diário, repousava ali na sua frente, sobre a mesa de trabalho, a portaria que lhe concedia a aposentadoria do banco. O portador do documento, o auxiliar de serviços gerais, escarafunchava o nariz, absorto, ansiando pela rápida assinatura do seu agora ex-chefe no livro de protocolos para pegar o beco mais cedo. O jamegão do mais recente aposentado da Terra saiu firme, entretanto algo trêmulo pela emoção contida no ato. Sete lustros de lida finalizados com uma garatuja feita com uma Bic cor azul. As mesmas, aliás, naquele já distante 1979, que lhe abriram as portas para este mundo. De repente, a sala prorrompeu em aplausos, seus muitos colegas vieram lhe abraçar, o bolo escondido apareceu, entre risos e guaranás.

O que faria agora de sua vida, tão alinhada e dependente da rotina daquele estabelecimento? Entrara ali pouco mais que um garoto, após a aprovação em um rigoroso concurso. Ele, menino danado do interior, inteligente e bom de mandado, soube aproveitar e como a escassa oportunidade. Diligente e solidário, qualidades difíceis de encontrar em um só vivente, foi galgando um a um os patamares do ofício naquela autarquia federal até se instalar em tranquilo cargo, que ele apelidou de “posto de observação do sistema financeiro nacional”. Desta privilegiada atalaia, pôde acompanhar e refletir sobre a trajetória das finanças brasileiras, xadrez jogado em mil dimensões, que ele agora compreendia tão bem, justamente na hora do apagar das luzes.

“Parabéns, amigo”, disse-lhe um colega, a boca cheia de farelo do bolo, “serás agora o gerente da tua existência, com tempo de sobra para programá-la de acordo com a tua vontade”. Incendiário, o glutão sugeriu: “Sacode fora a gravata, toca fogo no paletó. Aproveita este teu momento com prazer e sabedoria. Inaugura a tua perene folga com uma generosa dose de um bom escocês doze anos”. Desarmado, o jeito era comemorar com goladas do inocente refrigerante. Súbita paranoia: “Estarão eles alegres com o meu feito ou por se verem livres de minha pessoa?”. A dúvida atroz rapidamente dissipou-se com o discurso escrito num rolo de papel higiênico e lido com graça e em tom de agradecimento pelo impagável diretor, seu antigo e fiel estagiário.

Na rua, logo depois dos numerosos e demorados abraços de adeus, agora envolto pelo ar condicionado do táxi novo em folha, nosso caro ex-funcionário, agora já entronizado no confortável universo dos reformados, olhava o prédio em que passara labutando essas mais de três décadas e repetia o Shakespeare que aprendera no colégio: “Toda despedida é dor...tão doce, todavia, que eu te diria boa noite até que amanhecesse o dia”. A geografia da cidade outra lhe seria então, oferecendo-lhe leituras diferenciadas de ruas e espaços que antes só faziam sentido por lhe conduzirem ao local da faina cotidiana. “Há toda uma Fortaleza por descobrir; esta será minha primeira aventura, ave livre da gaiola dos horários”, ruminava, neo-desbravador urbano.

Entretanto, já havia escolhido sua Pasárgada, seu país de delícias: o lar. “Lá serei amigo de mim mesmo, terei a vida que eu quiser, do jeito que escolherei”, certificava-se, indicando ao taxista o caminho do agradável prédio de apartamentos no Bairro de Fátima. Em lá chegando, contou a boa nova à mulher, a carta de alforria dançando entre as mãos nervosas. Ela, desconfiada e matreira como toda filha de Eva, decretou: “O quê?! Ficar em casa sem fazer nada?! De jeito nenhum. Você é novo ainda, vá tratando de arrumar alguma coisa para cuidar, quem fica parado é poste, avie!”. Foi para o quarto despir-se. “Como pode ser tão insensível?”. Surpresa: clandestino, no bolso do terno, o bilhetinho do diretor gozado: “Debaixo da porta do aposentado cresce capim".
 
Fonte: jornal O POVO, 20 de janeiro de 2014.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

 

 

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

REVESES E CONTRARIEDADES PARA A DIREITA



  


Por Flávio Aguiar


O catastrofismo é moda, tanto à direita quanto à extrema esquerda, no Brasil. À direita, porque ela não tem programa. Ou melhor tem, mas não pode confessá-lo, pelo menos na arena política em sentido estrito. Pode através da mídia e/ou de arautos que não seja candidatos: desarticular a fórmula de crescimento do salário mínimo, destroçar o Bolsa-Família sob o argumento de que “vamos fazer mais e melhor”, acabar com esta mania de que pobre das periferias do Brasil tem direto a médico próximo, e por aí vai. Outra ponta deste catastrofismo é apontar que o Brasil já está na catástrofe. Os avanços sociais não existiram, o país está quebrado ou quebrando, o tomate vai nos afogar inflacionariamente, a Petrobrás vai se afogar no Oceano Atlântico, o PT é o Partido mais corrupto da história mundial, a Copa já é um fracasso, a Olimpíada outro, etc.

À extrema-esquerda, a orquestra  toca pelo mesmo diapasão, embora com alguns solos diferentes. Nada mudou no país, houve migalhas para os pobres e fatias mais gordas ainda para os ricos, Dilma, Lula e FHC são farinha do mesmo saco, etc. Acrescente-se aí uma desesperança generalizada no mundo: tudo está horrivelmente controlado pela direita internacional, etc. Às vezes há variações jazzísticas: o mundo está à beira de uma revolução mundial, como demonstraram as manifestações de junho passado, as maiores que o país já teve (sic), a dita revolução só não avança porque no meio do caminho tinha um Lula, tem uma Dilma no meio do caminho, estes espectros do capitalismo internacional.

Muita gente de outras colorações políticas cede aos catastrofismos. Mas se olharmos com mais atenção para  o cenário mundial, veremos que nem tudo foram flores para as direitas mundiais em 2013, que elas padeceram de reveses e contrariedades de monta.

As direitas: as correntes políticas que, contra todas as evidências, continuam pregando a liberação e supremacia dos mercados como panaceia universal, favorecendo o rentismo sobre o investimento produtivo, defendendo o rebaixamento salarial e do poder aquisitivo de populações inteiras como catapulta para a “competitividade”, cortando programas sociais, em alguns casos investindo contra imigrantes, “países do sul”, estas coisas. De quebra, continuando a pregar em certos países, mesmo veladamente, as soluções militares para os conflitos internacionais e até internos.

De longe, a maior contrariedade para esta direita foi o renascimento da Rússia como potência diplomática. Não morro de amores pelo czarismo renovado de Vladimir Putin, mas decididamente o governo russo foi o responsável por uma reviravolta nas expectativas no Oriente Médio, no sentido de que soluções diplomáticas são vislumbradas para os dois maiores conflitos que a região vive no plano imediato: a guerra civil na Síria e o programa nuclear iraniano. A iniciativa russa, que, por força das circunstâncias, ganhou o relativo apoio dos países do Ocidente, compôs um quadro de neutralização da crescente influência saudita na região  e sua metástase chamada “Al Qaïda e suas franquias”.

Outra contrariedade grave para as direitas foi que não conseguiram deter, nos Estados Unidos, a instauração do novo programa de saude pública do governo federal, ainda que este tenha se enrolado também nas próprias pernas.

Já que falamos em Estados Unidos, a eleição do democrata  Bill Blasio para a prefeitura de Nova Iorque foi não só uma contrariedade mas um revés para as direitas (ver artigo do governador Tarso Genro nesta página). Afirmando que o principal problema da cidade é a enorme desigualdade social que a caracteriza, Blasio já vem angariando adjetivos de “populista”, “demagogo”, olhado como uma espécie de Hugo Chavez redivivo e ancorado no rio Hudson.

Falando em Hugo Chavez, a vitória de Nicolás Maduro nas eleições municipais da Venezuela foi um grave revés para as direitas, também a eleição de Michele Bachelet no Chile e, antes, a reeleição de Rafael Correa no Equador. O processo de negociação entre o governo colombiano e as FARC, realizando-se em Havana, é juma contrariedade para as direitas, bem como o simples aperto de mão entre os presidentes Obama e Raul Castro no funeral de Mandela.

Na Europa, em que pese a continuidade dos “planos austeros” que estão ressecando as economias do continente e pulverizando o futuro de milhões de pessoas em vias de empobrecimento, em que pese o assanhamento da extrema-direita em vários países, como a França, a Holanda, e o mostrar de garras anti-imigrantes e pobres por parte da mais-direita alemã, a principal contrariedade para as direitas veio justamente de dentro de seu bastião principal: foi a adoção, pelo governo de Berlim, de um salário mínimo nacional. Além de uma contrariedade no plano político institucional, esta adoção foi um grave revés teórico e doutrinário para os sacerdotes fundamentalistas dos mercados desregulados e desreguladores de tudo o mais.

Para encerrar este curto sobrevôo, citarei a eleição do Cardeal Bergoglio, hoje Papa Francisco I, no Vaticano. Bergoglio tem um passado controverso, mas como dizia o Padre Antonio Vieira, e história mais importante é a do futuro. Francisco I não está levando a cúpula da Igreja Católica para a esquerda; mas a está puxando para o centro, depois do reinado, durante 35 anos, da dupla João Paulo II, o globe-trotter do anti-comunismo (como poderão santificar um prelado que se recusou a receber as Mães da Praça de Maio e os parentes dos desaparecidos chilenos?), e Bento XVI, o arqui-conservador doutrinário. Por mínimo que seja, este movimento é uma grave contrariedade para as direitas, envolvendo desde a retomada de um discurso que lembra a pobreza do mundo como tema central da Igreja, até a pregação da humildade – pelo menos – diante de questões como os casamentos e direitos de pessoas do mesmo sexo, entre outros. Além disto, o Papa está mexendo na estrutura da Cúria Romana e do Banco do Vaticano. Ele que se cuide.

Mais uma coisa, para desespero de nossos arautos da direita na mídia. Quando o presidente Jo’se Pepe Mujica (que deveria ganhar o Premio Nobel da Paz) anunciou sua bem sucedida campanha para liberar o ciclo completo da maconha, da plantação ao consumo, sob controle do Estado, os arautos mais açodados da direitona apressaram-se a desqualificá-lo, como sendo um homem ridículo e mal enjambrado, das roupas  às ideias e ideais. 2014 reservou um duro golpe para tais canastrões da velha mídia: o estado do Colorado seguiu no mesmo caminho, nos Estados Unidos, e até adiantou-se, promulgando a lei de regulamentação do tema antes que o Uruguai o fizesse. E há mais estados norte-americanos anunciando que vão seguir ma mesma esteira.

Quero ver os falsos catões da velha mídia esceverem que estado norte-americano é mal enjambrado.

Como diz o Leblon, a ver.



Fonte: http://www.cartamaior.com.br/?/Coluna/Reveses-e-contrariedades-para-a-direita/30009

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

OS SHOPPING-CENTERS, UTOPIA NEOLIBERAL



 


Por Emir Sader



Na sua fase neoliberal, o capitalismo implementa, como nunca na sua história, a mercantilização de todos os espaços sociais. Se disseminam os chamados não-lugares – como os aeroportos, os hotéis, os shopping-centers -, homogeneizados pela globalização, sem espaço nem tempo, similares por todo o mundo.

Os shopping-centers representam a centralidade da esfera mercantil em detrimento da esfera pública, nos espaços urbanos. Para a esfera mercantil, o fundamental é o consumidor e o mercado. Para a esfera pública, é o cidadão e os direitos.

Os shoppings-centers representam a ofensiva avassaladora contra os espaços públicos nas cidades, são o contraponto das praças públicas. São cápsulas espaciais condicionadas pela estética do mercado, segundo a definição de Beatriz Sarlo. Um processo que igualiza a todos os shopping-centers, de São Paulo a Dubai, de Los Angeles a Buenos Aires, da Cidade do México à Cidade do Cabo.
   
A instalação de um shopping redesenha o território urbano, redefinindo, do ponto de vista de classe, as zonas onde se concentra cada classe social. O centro – onde todas as classes circulavam – se deteriora, enquanto cada classe social se atrincheira nos seus bairros, com claras distinções de classe

Os shopping, como exemplos de não-lugares, são espaços que buscam fazer com que desapareçam o tempo e o espaço – sem relógio e sem janelas - , em que desaparecem a cidade em que estão inseridos, o pais, o povo. A conexão é com as marcas globalizadas que povoam os shopping-centers de outros lugares do mundo. Desaparecem os produtos locais – gastronomia, artesanato -, substituídos pelas marcas globais, as mesmas em todos os shoppings, liquidando as diferenças, as particularidades de cada pais e de cada povo, achatando as formas de consumo e de vida.

O shopping pretende substituir à própria cidade. Termina levando ao fechamento dos cinemas tradicionais das praças publicas, substituídos pelas dezenas de salas dos shoppings, que promovem a programação homogênea das grandes cadeias de distribuição.

O shopping não pode controlar a entrada das pessoas, mas como que por milagre, só estão aí os que tem poder aquisitivo, os mendigos, os pobres, estão ausentes. Há um filtro, muitas vezes invisível, constrangedor, outras vezes explicito, para que só entrem os  consumidores.

Nos anos 1980 foi organizado um passeio de moradores de favelas no Rio de Janeiro a um shopping da zona sul da cidade. Saíram vários ônibus, com gente que nunca tinham entrado num shopping.

As senhoras, com seus filhos, sentavam-se nas lojas de sapatos e se punham a experimentar vários modelos, vários tamanhos, para ela e para todos os seus filhos, diante do olhar constrangido dos empregados, que sabiam que eles não comprariam aqueles sapatos, até pelos seus preços. Mas não podiam impedir que eles entrassem e experimentassem as mercadoras oferecidas.

Criou-se um pânico no shopping, os gerentes não sabiam o que fazer, não podiam impedir o ingresso daquelas pessoas, porque o shopping teoricamente é um espaço público, aberto, nem podiam botá-los pra fora. Tocava-se ali no nervo central do shopping – espaço público privatizado, porque mercantilizado.

O shopping-center é a utopia do neoliberalismo, um espaço em que tudo é mercadoria, tudo tem preço, tudo se vende, tudo se compra. Interessa aos shoppings os consumidores, desaparecem, junto com os espaços púbicos, os cidadãos. Os outros só interessam enquanto produtores de mercadorias. Ao shopping interessam os consumidores.

Em um shopping chique da zona sul do Rio, uma vez, uns seguranças viram um menino negro. Correram abordá-lo, sem dúvida com a disposição de botá-lo pra fora daquele templo do consumo. Quando a babá disse que ela era filho adotivo do Caetano Veloso, diante do constrangimento geral dos seguranças.

A insegurança nas cidades, o mau tempo, a contaminação, o trânsito,  encontra refúgio nessa cápsula, que nos abriga de todos os riscos. Quase já se pode nascer e morrer num shopping – só faltam a maternidade e o cemitério, porque hotéis já existem. A utopia – sem pobres, sem ruídos, sem calçadas esburacadas, sem meninos pobres vendendo chicletes nas esquinas ou pedindo esmolas, sem trombadinhas, sem flanelinhas.  O mundo do consumo, reservado para poucos, é o reino absoluto do mercado, que determina tudo, não apenas quem tem direito de acesso, mas a distribuição das lojas, os espaços obrigatórios para que se possa circular, tudo comandado pelo consumo.

Como toda utopia capitalista, reservada para poucos, porque basta o consumo de 20% da população para dar vazão às mercadorias e os serviços disponíveis e alimentar a reprodução do capital.

Mas para que essas cápsulas ideais existam, é necessário a super exploração dos trabalhadores – crianças, adultos, idosos – nas oficinas clandestinas com trabalhadores paraguaios e bolivianos em São Paulo e em Buenos Aires, em Bangladesh e na Indonésia, que produzem para que as grandes marcas exibam as roupas e os tênis luxuosos em suas esplendorosas lojas dos shoppings.

O choque entre os mundo dos shoppings e o dos espaços públicos remanescentes – praças, espaços culturais, os CEUS de São Paulo, os clubes esportivos públicos – é a luta entre a esfera mercantil e a esfera pública, entre  o mundo dos consumidores e o mundo dos cidadãos, entre o reino do mercado e a esfera da cidadania, entre o poder de consumo e o direito de todos.

É um enfrentamento que está no centro do enfrentamento entre o neoliberalismo e o posneoliberalismo, entre a forma extrema que assume o capitalismo contemporâneo e a formas de sociabilidade solidária das sociedades que assumem a responsabilidade de construir um mundo menos desigual, mais humano.



Fonte: http://www.cartamaior.com.br/?/Blog/Blog-do-Emir/Os-shopping-centers-utopia-neoliberal/2/29996

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

ANO NOVO, VIDA NOVA?



Por Romeu Duarte

Todo final e começo de ano é a mesma coisa. Se o desejo não parte de dentro do sujeito, de alguma busca ou carência que se anseia solucionar, são imposições alheias ao nosso talante que nos determinam outra forma de viver. Diminuir os defeitos e ampliar as virtudes do cidadão para melhorar o seu passadio e o da comunidade em que vive, eis o desafio ecológico posto sobre a mesa do café da manhã familiar neste início de janeiro. Terá ele condições ou coragem de alterar uma rotina de tanto tempo, tão entranhada em sua maneira de ir tocando as coisas? Cumprirá o combinado a ferro e fogo ou encontrará mil e uma chicanas para contornar o prometido? Suportará as cobranças de tal panóptico, subitamente focado no encalço dos seus passos?
Para começar, beber e comer menos, trocar os modos do Baco pantagruélico pelos do faquir espartano. Banir da vontade todas as comidinhas emocionantes que tanto se insinuam ao seu apetite e substituí-las por repastos mais saudáveis e orgânicos. Numa palavra: sai de campo, esbaforida, a panelada do Fabiano e entra, cheio de gás, o rodízio de chuchu. Na agenda líquida, limitar os destilados e fermentados às quantidades mínimas em proveito da boa e refrescante água, nas versões mineral e de coco. Terminantemente proibida a já longeva prática do Bardhal (ingestão farta de cerveja, com cachaça para rebater). Claro, o esforço de reeducação alimentar deverá ser complementado por suarentas caminhadas em calção, camiseta regata e tênis pelos calçadões.
No quesito cultural, a ordem é expandir limites e abolir preconceitos. Deixar de lado as velhas preferências e experimentar universos nunca dantes penetrados. Até breve Nelson, Gullar, Melville, filmes de gangster e faroeste, be-bop, bolero, bossa nova, blues inglês, Caetano, Caravaggio, Bacon, Brecht, Corbu, Reidy e Brando. Boas vindas Galera, Carpinejar, Agualusa, filmes peruanos e iranianos, nu-jazz, arrocha, MPB gringa, zouk-carimbó, Criolo, pichadores, arte pública e coletiva, Müller, Hadid, Rosenbaum e Franco. Não sabe se agüentará esse inusitado cardápio. Aprendeu com Borges que selecionar o acervo de uma biblioteca é uma excelente forma de exercer a crítica literária. Nas estantes, seus antigos ídolos, mãos já acenando adeuses.
A ambiciosa ementa, para ele agora quase um calvário, também se estende à descoberta de novos e surpreendentes lugares. Afinal, há muito mais destinos que o sambado roteiro casa-trabalho-escritório-boteco pode oferecer. Fazer compras ao cair da tarde em feéricos supermercados. Bater perna no shopping elegante, casando a comédia romântica insossa do cinema com o lanche frugal na tapiocaria. Curtir pic-nics nos parques de Fortaleza aos sábados e domingos à tarde. Exercitar-se até a exaustão nos equipamentos da academia de ginástica. Virtualmente, aventurar-se nas muitas vias do cyber-world. Por fim, ficar mais em casa, no sacrossanto recesso do lar, lugar calmo e sossegado. Estaria ele preparado para dar um tempo nos benjamins da Travessa Crato?
Com essa alentada lista de itens politicamente corretos pregada na testa, ele se levanta para tomar banho e ir trabalhar. Sob a cálida torrente da piscina vertical (obrigado, Aírton Monte), reflete sobre a onipresente expressão “qualidade de vida”. Será que a conquista deste tão almejado patamar do existir implicaria inexoravelmente na abdicação de gostos e vícios longamente adquiridos e desfrutados? Programa de índio seria agora obrigação implacável? Haveria vida no planeta Tédio? Arruma-se com vagar, pensando no duro repto posto à sua frente. Evitá-lo-á mais uma vez, driblando-o às gargalhadas? No ônibus (prometeu deixar o carro na garagem e andar mais), o amigo, recém-convertido ao credo, lhe desejou sorrindo ano novo e vida nova.

Fonte: jornal O POVO, 13 de janeiro de 2014.

DESTINO, PACTO E PLANEJAMENTO


http://barradoceara.zip.net/images/mangue.jpg
Barra do Ceará, Fortaleza, Ceará, Brasil
Por Joaquim Cartaxo

O Plano Estratégico da Região Metropolitana de Fortaleza (Planefor) foi a última tentativa de construir um desígnio, desenho, projeto de cidade para a capital do Ceará. Concebido como plano de compromissos entre a sociedade e o poder público; político em sentido amplo, sem limitações de credo ou partido; de todos os cidadãos; esforço coletivo na identificação e seleção de ações e projetos a partir dos anseios e desejos da população para se construir a RMF. Cinco estratégias o compunham: região metropolitana integrada; região metropolitana empreendedora e competitiva; educação para o desenvolvimento humano; sociedade solidária e gestão compartilhada; cultura, identidade e autoestima. Em 2014, essa iniciativa da sociedade civil completará 15 anos.

De lá pra cá, Fortaleza cresceu, transformou-se na terceira metrópole brasileira em influência socioeconômica e cultural, conforme aponta o estudo "Cidades que influenciam" do IBGE/2008. Influência que abrange 20 milhões de pessoas, originárias de um território que se estende do Rio Grande do Norte ao Amazonas, buscando o atendimento de seus interesses e necessidades em uma cidade prestadora de serviços e com atividade comercial intensa.

Por todo esse período, a política para enfrentar essa nova realidade metropolitana oscilou entre a retórica de desenvolvimento urbano, lamúrias sobre dificuldades financeiras e construção de obras de natureza pontual. Portanto, politica sem projeto de cidade.

Sem destino claro; sem pacto urbanístico entre governo, sociedade e iniciativa privada; sem planejamento efetivo que defina prioridades, estabeleça padrão de financiamento do desenvolvimento e oriente as tomadas de decisões de curto, médio e longo prazo, tudo tenderá a permanecer como está. Consequentemente, agravamento dos problemas de mobilidade urbana, habitacionais, saneamento, socioambientais, educação, saúde, lazer dentre outros.

Joaquim Cartaxo é arquiteto urbanista e secretario de formação política do PT/CE.


Fonte: jornal O POVO, 13 de janeiro de 2014.






sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

PROFECIA QUE SE AUTOREALIZOU


Por Paulo Moreira Leite
 

Ao suspender a construção dos corredores de ônibus em São Paulo, o Tribunal de Contas do Município dá sequencia ao conjunto de medidas que tem anestesiado os poderes do prefeito Fernando Haddad. 
Não importa se você gosta ou não dos corredores. Se acha que os táxis deveriam ser autorizados a trafegar nos espaços reservados aos ônibus ou se eles sequer deveriam ser construídos.

São Paulo debate os corredores de ônibus desde que o primeiro deles foi
construído pelo prefeito (nomeado) Mário Covas. Jornais e emissoras de rádio passaram um ano inteiro dando porrada. Quando a obra ficou pronta,
até o novo prefeito, Jânio Quadros, disse que era a favor.

Isso é história.

O que importa hoje é a democracia, uma conquista histórica, que permitiu escolher prefeitos em urnas, também.

Haddad foi eleito com 55% dos votos e tem todo direito de realizar seu programa de governo. Teremos novas eleições em 2016 e, nesta hora, se a maioria decidir o contrário, os corredores podem ser, literalmente, desconstruídos.

O que não vale é um tribunal, de autoridades não-eleitas, tomar uma decisão dessa natureza. O caso dos corredores é ainda mais preocupante porque estamos falando de um tribunal de contas, que, em sua origem, tem um papel de aconselhar autoridades a tomar medidas, sugerir decisões -- mas não dispõe das mesmas funções e poderes do Judiciário convencional.

A Constituição, como se sabe, informa em seu artigo 1o. que todos os poderes emanam do povo, que o exerce através dos representantes eleitos.
Isso implica em reservar, ao Legislativo, o papel de formular leis. Reserva, ao Executivo, o papel de executá-las.
Já o Judiciário tem a função de julgar se a lei em vigor está sendo aplicada devidamente. Como ensinam os bons juristas, um tribunal não faz justiça, missão que cabe à política. Os tribunais aplicam leis.

Mas não é isso que estamos assistindo no país, hoje. Em vários escalões, o Judiciário tem tomado medidas que vão além de suas atribuições. Basta lembrar que o Supremo Tribunal Federal decidiu suspender a votação dos royalties do petróleo e até hoje o caso permanece empacado, embora o Congresso já tenha deixado claro o que pensa a respeito. O STF também discute

O Supremo também proibiu, através do presidente Joaquim Barbosa, que Fernando Haddad fizesse um reajuste do IPTU. Em outra medida do mesmo teor, a Justiça cancelou a decisão
de Haddad que suspendia o Controlar. A Justiça também se colocou no direito de definir as metas e prazos do prefeito para cumprir um programa de construção de creches.

O que é isso? É a judicialização da política, que discuti em dois artigos recentes aqui neste espaço. É um processo que permite ignorar a decisão dos eleitores e aplicar medidas que foram rejeitadas
nas urnas. 


O que se quer é a soberania dos tribunais, em vez da soberania da população.
As decisões que envolvem IPTU e transporte coletivo, são medidas e
conteúdo social bem definido, que impedem medidas que favorecem os pobres e mantém privilégios dos bem nascidos. 


Em qualquer caso, são medidas inapropriadas. Não cabe ao Tribunal de Contas do Municípios avaliar o programa dos corredores, pois este julgamento faz parte doo poderes que a Constituição reserva aos representantes eleitos do povo.
No curto prazo, é difícil deixar de notar que o cerco a Fernando Haddad ocorre num ano de eleição presidencial, onde o voto na cidade de São Paulo tem, sempre, um peso importante na decisão do voto nacional.

Em horizonte mais longo, o saldo desse processo é fácil de perceber. Implica em desmoralizar o voto dos brasileiros, em convencer os eleitores que suas escolhas têm pouco valor prático. São medidas  que ajudam a  preparar processos autoritários.


Fonte: http://www.istoe.com.br/colunas-e-blogs/coluna/342366_PROFECIA+QUE+SE+AUTOREALIZOU

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

COMENTÁRIO A RESPEITO DE UM DESAPARECIDO

Por Romeu Duarte


 
Meu caro, eu não sei se agora o teu medo está por dentro ou por fora do teu coração. Sei apenas que quem te conhece, principalmente teus velhos amigos daqui, sofre com a tua desaparição. Quem sabe abriste a porta que dá para o sertão da tua solidão, construída desde que te descobriste apenas um rapaz latino-americano, sem dinheiro no banco, sem parentes importantes e vindo do interior. Estranho: percorrendo os teus escritos com os olhos de hoje, a palo seco, é como se tu tivesses planejado tudo em minúcias, quando não tinhas ainda o olhar lacrimoso que deve nesta hora estar fitando o Pampa. Maktub, estava escrito. Quem sabe, veio o tempo negro e, à força, fez contigo o mal que a força sempre faz: tornaste-te infeliz, mudo, nenhuma canção, nada mais.
Onde anda aquele que era alegre como um rio, um bicho, um bando de pardais? Estará pedindo aos que com ele se importam que saiam do seu caminho, que ele prefere andar sozinho, que deixem que ele decida a sua vida? É que, para esses que tanto lamentam teu estado, em cada luz de mercúrio eles vêem a luz do teu olhar, passam praças e viadutos e tu nem te lembras de voltar. Será que foges do que é teu seguindo as paralelas dos pneus na água das ruas, duas estradas nuas? As lembranças que aqui deixaste dizem de um sujeito cheio de vida, culto e inteligente, avesso à amargura, ao silêncio e ao mistério que cercam teu incerto paradeiro. Grana pouca? Esses casos de família e de dinheiro eu também nunca entendi bem.
Se alguém vier te perguntar por onde andaste, poderás argumentar que, enquanto todos sonhavam com o teu retorno, tu te desesperavas nos não-lugares dos estacionamentos desertos e dos hotéis não pagos. Ah, o egoísmo e a ganância do respeitável público, que te quer sempre no palco, tudo outra vez, às favas a dor que sentes. Pois é, Seu Zé, poderias ter dito o que disse teu colega Gonzaguinha: “ando tão mal que ando dando nó em pingo d’água, só mato a sede quando choro um pouco a minha mágoa, mas a platéia ainda aplaude e ainda pede bis, a platéia só deseja ser feliz”. Para muitos, só existes quando tua voz se levanta para o puro deleite. O verso do Cacaso poderia ser teu também: “quem me vê assim cantando, não sabe nada de mim”. Foto 3x4.
Mas, poeta, que tal deixar de coisa e cuidar da vida, como disseste um dia? És ainda moço para tanta tristeza, senão chega a morte ou coisa parecida e te arrasta para longe da tua rede branca e do teu cachorro ligeiro e te leva ao punhal que corta, ao fantasma escondido no porão. Desculpa o jeito meio tenebroso de falar, mas há tempo, muito tempo, que estás longe de casa. Não poderás reclamar do amante que a gente da tua rua arranjou ou da banana que a tua normalista linda te reservou pelas promessas não cumpridas. Claro, é apenas o charme brasileiro de alguém sozinho a cismar, mas eu quero é que este canto torto feito faca corte a tua carne, perdida nessas ilhas cheias de distância. Blues, tango argentino, o que vai melhor agora com o teu destino?
Mas, cara, a viagem é tua, o caminho é o que escolheste. Quem sou eu para te dizer alguma coisa ou apontar saídas? Por mim, voltavas, davas as caras de novo, de forma surpreendente como essa chuva que cai agora sobre nossas cabeças nesta quente hora do almoço do primeiro dia útil do ano. Não repara neste alinhavado, que só fica em pé com a força das tuas belas palavras. É somente uma colcha de retalhos cosida com a terna linha da saudade e do zelo para com aqueles que, como tu, valem a pena e fazem a vida valer ser vivida. Uma voz angustiada que talvez reflita as vozes de outros tantos, tontos de fazer dó, meu chapa, com o teu segredo, a tua mão fechada, a tua boca aberta, o teu peito deserto, a tua mão parada, lacrada, selada, molhada de medo.
 
Fonte: jornal O POVO, 6 de janeiro de 2014.

sábado, 4 de janeiro de 2014

QUAL A MORAL DOS PARTIDOS ( E DOS POLÍTICOS ) ?


Lula Miranda Por Lula Miranda

Fiz a mim mesmo essa indagação ao ler, aqui no Brasil 247, frase atribuída ao presidente do PSB paulista: “somos moralmente de partidos diferentes”. O deputado Márcio França referia-se ao seu partido, à Rede Sustentabilidade e a Marina Silva, que, supostamente, estaria atrelando sua candidatura à vice na chapa capitaneada por Eduardo Campos, que concorrerá à eleição presidencial desse ano, ao fato do PSB de São Paulo não apoiar a reeleição de Geraldo Alckmin, e sim lançar candidato próprio ao governo do estado.

O que França parece querer nos dizer é que ele é moralmente diferente de Marina. Melhor, que são de partidos “moralmente diferentes”. Mas qual a moral de França e/ou do “seu” PSB? Qual a moral de Marina e/ou da “sua” Rede? Os partidos – inclusive a promissora Rede – e os políticos, por acaso, têm alguma moral, nem que seja mínima? Têm algum ideário e coerência? Não seria esse suposto debate apenas uma falsa polêmica ou um joguete de amorais (ou imorais) para confundir e seduzir o leitor? Ou é mesmo um debate para valer?

Sabemos que o PSB em São Paulo, assim como o PPS, é uma espécie de “partido de aluguel” do PSDB. O PSB de SP não tem nada de “esquerdista” ou de socialista. Haja vista, estar aliado com a banda mais direitista do tucanato, representada pelo governo Alckmin. França e, portanto, “seu” PSB integra e é partícipe/cúmplice do (des)governo hoje encastelado no Bandeirantes. E por essa postura deverá, certamente, responder na próxima eleição.

Portanto, ao que tudo nos faz crer, o PSB de SP não guarda nenhuma semelhança com o antigo PSB do Ceará, dos irmãos Ciro e Cid Gomes, por exemplo. Mas e com relação aos “socialistas” de Pernambuco?

Pode-se ainda indagar: qual a moral de Eduardo Campos? Que disse, recentemente, em seu estado, que a “aliança com tucanos é a nova política”. Com assim “nova política”?!

Em Pernambuco, mas não em São Paulo – é isso? Que ideário é esse?! Que lógica é essa?! Que moral é essa?! Teria a política se transformado num deserto moral? Ou, na política, experimentamos uma inexpugnável “moral de circunstâncias”?

Mas que política é essa, hoje praticada, de modo despudorado, à luz do dia? Inóspita, amoral e desértica? Pragmática? Política com “p” minúsculo ou “P” maiúsculo?

Ou o PSDB de Pernambuco não é o mesmo de SP? Assim como o PSB paulista não foi, algum dia, o mesmo do cearense. Ou o PP de Maluf não seria o mesmo de Dorneles?

Marina teria razão, se estiver sendo sincera, se estiver “marcando posição” para valer em não aceitar, de fato, essa composição. Mas desconfio que Marina apenas jogue para a arquibancada; faz mais uma jogada de marketing, ensaiada, com o intuito de encantar a sua torcida, a dos seus correligionários da Rede Sustentabilidade, e angariar também a simpatia de eleitores já bastante acabrunhados com a política.

Ou talvez, quem sabe, ainda deseje manter uma suposta mácula e fama de “virgem” ao ingressar no “baixo meretrício” da real politica.

Sim pode ser isso. Marina, por outro lado, pode estar apenas, simples e preventivamente, tomando a sua dose peculiar de “vacina”, para depois adentrar, sem pudores, com insuspeitada desenvoltura, a inóspita, pois insalubre, selva pantanosa da política brasileira – a despeito e à revelia do pretenso purismo de um suposto ideário alardeado pela “virgem” Rede Sustentabilidade.

Afinal, podem ponderar alguns, Dilma e o PT não estariam também associados ao PP, ao PTB e outros partidos e políticos deploravelmente conservadores? Dilma e o PT não estariam também mancomunados com Renan, Sarney, Collor et caterva?

Kassab não era “cupincha” de Serra? Sim, mas agora apoia Dilma. O PP, que apoia Dilma no âmbito federal, não é o mesmo de Maluf, que apoia Alckmin no estado e o petista Haddad no município? O PTB está “fechado” com Alkmin em SP e “aberto” com Dilma no governo federal? Isso tudo não pode parecer confuso ao eleitor comum? Seria promiscuidade e oportunismo; ou pragmatismo e governabilidade?

- What a fuck is this?! – exclama o brasilianista que mora aqui ao lado. Bem, se a moral em política não existe então estaria tudo permitido? Vale tudo? Não é bem assim. Tal qual nos bordeis, com seu carpete cheirando a mofo e eucalipto (e na sociedade como um todo), não existem “virgens imaculadas” na política: só tem “puta velha” – com o perdão do uso da linguagem coloquial/chula, por vezes mais apropriada ou inevitável.

O que o eleitor deverá verificar, no momento do voto (mas não só nesses momentos), é com qual agenda e princípios os políticos e os partidos estão comprometidos. E se estão comprometidos de fato com alguma coisa.

Se compromissados com uma agenda progressista, hoje nas mãos e presente no ideário dos petistas – e dos demais partidos de esquerda. Ou comprometidos, em que pese os disfarces e maquiagens, com uma agenda conservadora, privatista e patrimonialistas, associada aos tucanos paulistas e a seus partidos associados.

Fonte: http://www.brasil247.com/pt/247/artigos/125868/Qual-a-moral-dos-partidos-%28e-dos-pol%C3%ADticos%29.htm

POR QUE A EXTREMA ESQUERDA FRACASSOU


  Por Emir Sader

Quando foram sendo eleitos governos na onda do fracasso e rejeição aos governos neoliberais, predominantes nos anos 1990 na América Latina, ao mesmo tempo foram se reconstituindo as forças de extrema esquerda, na critica desses governos.

Nenhum deles foi poupado, mas inicialmente o governo Lula foi objeto mais concentrado dessas críticas. Motivos não pareciam faltar. Desde a “Carta aos brasileiros”, Lula parecia encaminhar-se para o abandono das teses históricas da esquerda, repetindo a experiência histórica que os trotskistas sempre anunciaram: a social democracia se comporta como força de esquerda, quando está na oposição, mas basta chegar ao governo, para romper com as teses históricas da esquerda, “traindo” a esquerda e os trabalhadores, para se revelar como uma manobra de engano do povo e de continuidade, sob outra forma dos governos da direita.

Uma equipe econômica conservadora, uma reforma regressiva da previdência, discurso tímido – tudo parecia confirmar a tese da “traição”. Cabia, perfeitamente, uma crítica pela esquerda, sobre a questão central do período: a superação do modelo neoliberal, que era feita pela esquerda do PT.

Discutia-se se o governo seguia estando sob disputa entre tendências conservadoras e de esquerda, até que um grupo considerou que era um governo “perdido”, saiu do PT e a fundou um novo partido. O grupo foi rapidamente hegemonizado por trotskistas (da tendência morenista, de origem na Argentina), que enquadravam a evolução do PT no governo no modelo clássico da “traição”.

Porém, ao invés de elaborar uma critica de esquerda e formular alternativas, rapidamente esse grupo pegou carona nas denúncias do “mensalão”, que a mídia lançou contra o PT. Fazendo com que a “traição” tivesse uma conotação de “corrupção”, como sintoma de uma degradação moral do governo.

A líder do grupo, Heloisa Helena, com seu destempero verbal, tratava o governo como “gangue” e com outros epítetos afins, tão ao gosto da classe média. Esse grupo, que supostamente saia pela esquerda para fundar o Psol, rapidamente somava-se, de maneira subordinada à ofensiva da direita contra o governo.

A campanha eleitoral de 2006 foi a consagração dessa aliança tácita: todos contra o governo Lula, inimigo fundamental de uns e dos outros.  Nela, o Psol consolidou sua opção pela critica moralista, da “traição” do Lula. Quem trai, se torna cada vez pior, reprime, reproduz exatamente o governo da direita. Dai as armadilhas em que caiu o Psol.

Se concentrou em tentar demonstrar, primeiro, que não teria havido “herança maldita”, desconhecendo totalmente a profunda e prolongada recessão produzida pelo governo FHC e a situação herdada do Estado, do mercado interno, da exclusão social, da precarização das relações de trabalho, entre outras. Pior ainda do que isso, passou a desconhecer – da mesma forma que a direita – as diferenças do governo Lula com o governo FHC, em particular a prioridade das políticas sociais.

Além de que desconhece que a polarização neoliberalismo/antineoliberalismo é o enfrentamento central do período histórico atual e, por isso, desconhece que o governo Lula faz parte do movimento histórico da região de construção de governos posneoliberais. Desconhece o papel dos novos governos latinoameicanos, como único polo mundial de resistencia ao neoliberalismo.

A aliança oportunista com a direita contra o governo Lula se deve à consciência de que só teriam espaço, se o PT fracassasse. Então se somam a essa frente, que toma o governo Lula como seu inimigo fundamental.

A essa aliança se soma a atitude ultra esquerdista de, no segundo turno, entre Lula e Alckmin, ficar equidistante, como se fosse o mesmo que ganhasse um ou outro. Imaginem o Alckmin presidente do Brasil diante da crise de 2008! Bastaria isso para nos darmos conta da posição absurda no segundo turno, mas coerente com a opção feita pelo Psol.

Depois do brilhareco momentâneo das eleições de 2006, em que o desempenho da Heloisa Helena, presidente o partido, chegou a ser vergonhoso, promovida pela Globo para permitir a chegada ao segundo turno, o perfil do partido claramente baixou. Se deram conta que seu projeto de construir uma alternativa nacional tinha fracassado. A candidatura de Marina, que herdou boa parte dos votos de Heloisa Helena, confirmou isso. As posições posteriores da ex-candidata complementaram a imagem de uma pessoa individualista, reacionária em relação a temas como  o aborto e a democratização dos meios de comunicação, descontrolada, sem condições de liderar um partido de esquerda.

Enquanto isso, ao invés de ser derrotado, o governo Lula, pelos efeitos das politicas sociais, foi ampliando seu apoio popular, de forma constante, até o fim do governo Lula, permitindo a eleição da Dilma.

O desempenho do candidato do Psol nas eleições seguintes, Plínio de Arruda Sampaio, que contou com muitos espaços na mídia, na mesma busca de votos para chegar ao segundo turno contra o PT, confirmou o fracasso politico do partido, quando teve 1% dos votos, menos até que outros grupos pequenos, com muito menos espaços na mídia. Desde então o partido tem uma postura de marcar posição, sem nunca ter formulado projeto estratégico alternativo para o Brasil, ficando reduzido a uma força do campo de denuncias do “mensalão”.

Enquanto que uma força de esquerda radical deveria, antes de tudo, ter uma analise especifica da sociedade brasileira, do grau de penetração do neoliberalismo, para propor um projeto de superação desse modelo, que articule antineoliberalismo com anticapitalismo. Deveria analisar o governo do PT reconhecendo os avanços realizados e apoia-los, ao mesmo tempo que criticar suas debilidades. Se propor a ser aliado do governo à sua esquerda, nos aspectos comuns e critico nos outros.

Teria que apoiar a política externa do governo, suas politicas sociais, seu resgate do papel ativo do Estado nos planos econômico e social. Que apoiar o conjunto de governos progressistas na região, que protagonizar os processos de integração regional.

Caracterizar o governo como  força progressista, força moderada no campo da esquerda, enquanto esse partido seria uma força mais radical do mesmo. Para isso precisaria ter clareza dos inimigos fundamentais, que compõem o campo da direita – EUA, PSDB e seus aliados, a mídia oligárquica, o sistema bancário. Para impedir qualquer risco de se confundir com a direita contra o governo.

Essa via foi inviabilizada pela opção que o Psol assumiu e reafirmou ao longo do governo do PT, isolando-se, sem apoio popular, valendo-se dos espaços que a mídia direitista lhe concede, quando entende que podem prejudicar o governo.
Virou um partido denuncista, de causas corretas e outras duvidosas. Nem sequer valoriza o imenso processo de democratização social que tem transformado positivamente o Brasil na ultima década.

Esse fracasso da extrema esquerda hoje na é generalizado nos países de governos progressistas – Venezuela, Argentina, Uruguai, Bolívia, Equador -, com desempenhos mais ou menos similares, mas a mesma incapacidade de compreender a natureza do period histórico neoliberal e o papel progressista que tem esses governos. A extrema esquerda terminou tomando como seus inimigos fundamentais esses governos, aliando-se, tácita ou explicitamente à direita contra eles, abandonando a possibilidade de compor um quadro da esquerda, onde seriam a alternativa mais radical. Ficam isoladas, em posturas denuncistas, sem propostas alternativas. Enquanto que os governos progressistas, a esquerda na era neoliberal, se constituem, em escala mundial, na referência central na luta antineoliberal.


Fonte: http://www.cartamaior.com.br/?/Blog/Blog-do-Emir/Por-que-a-extrema-esquerda-fracassou/2/29430

sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Combater a “direitização” e o atraso é tarefa das redes sociais

Por Alberto Cantalice

O círculo virtuoso iniciado em 2003, com a assunção do Presidente Lula no comando da nação, abriu para os setores populares e principalmente para àqueles brasileiros e brasileiras que durante séculos foram relegados à total exclusão e ausência de perspectivas, uma nova realidade.
Depois de dois mandatos consecutivos, ao passar a faixa presidencial para sua sucessora Dilma Rousseff, eleita por mais de 58 milhões de votos, Lula ancorado em mais de 80% de popularidade sai do Planalto para fazer história.

Após realizar grandes feitos tais como: o maior programa de transferência de renda do mundo, o Bolsa Família; dar início ao grandioso Programa de habitação popular, o Minha Casa, Minha Vida; criar centenas de escolas técnicas; quitar a dívida com o FMI; conceber o Prouni; implementar o programa Luz Para Todos e iniciar a transposição do rio São Francisco que levará água para 12 milhões de nordestinos que convivem desde o descobrimento com o drama da seca não foram suficientes para poupar o ex-presidente e seu partido o PT de sofrer a mais sorrateira e ignominiosa perseguição. Essa perseguição parte, notadamente, de setores da mídia e de uma elite mesquinha preocupada pura e simplesmente em manter privilégios que remontam à época das Casas Grandes e senzalas.

Arautos do caos. Esses setores trabalham diuturnamente para solapar direitos duramente conquistados pelas camadas populares. Adeptos da síndrome de vira-latas, tudo fazem para diminuir o sentimento de pujança nacional e de brasilidade.

Quem anda por esse Brasil e conhece suas entranhas vê claramente que o país que alguns propalam não é o Brasil real: imensas áreas das periferias das capitais convivem hoje com uma realidade que há pouco era inexistente. Fruto do dinamismo econômico e social que transformou meros lugarejos de outrora em cidades e bairros com comércios e serviços antes só vistos nos grandes centros.
Herdeira dessa herança bendita, a Presidenta Dilma vem dando prosseguimento ao trabalho de Lula e em muitos casos aprofundando-o. Vejamos: o Programa Minha Casa Melhor que financia móveis e eletrodomésticos para os setores de renda mais baixa, beneficiando pessoas que não teriam acesso a esses bens se não fosse o Programa; o Pronatec, programa de ensino técnico-profissionalizante que já atende a milhões de jovens e adultos que não dispunham de uma profissão.

Capítulo especial é destinado ao Programa Mais Médicos. Ao romper com a lógica corporativa e enfrentar a extremada falta de profissionais em um grande número de municípios, trazendo para aqui milhares de médicos vindos de várias partes do mundo. O Ministério da Saúde dá um passo adiante na resolução de alguns dos problemas que ainda afligem a nossa população: saúde pública.
Vítima de um grande bombardeio corporativo e de parte da mídia, o Mais Médicos goza hoje de um amplo apoio popular, pondo por terra a falácia do não preparo dos profissionais. Vale destacar que o percentual de médicos estrangeiros atuando no Brasil não passa de 2%, enquanto que nos EUA, na Grã Bretanha e no Canadá passa de 20%.

E, ainda, a solidez da economia nacional é garantida pelo acúmulo de mais de 350 bilhões de dólares em reservas cambiais. Não fossem a enorme capacidade e capilaridade de comunicação das forças progressistas esses feitos além de escamoteados não chegariam, na sua totalidade, ao conhecimento da nação. Mas a disputa é desigual!

Frente a avalanche de más notícias marteladas incessantemente no intuito de desmontar o que esta sendo construído, as redes sociais, os sites e os blogs progressistas vêm cumprindo o papel de contraposição. Urge qualificar a democracia brasileira. Em nenhuma democracia moderna e pluralista do mundo existe tamanha concentração midiática nas mãos de tão poucas famílias.

Em 2014 a disputa será dura. De um lado, os que querem que o Brasil siga avançando e de outro os que, em nome de uma suposta modernidade, representam a volta de um Brasil injusto e que ficou para trás. Não tenhamos dúvidas: hesitar frente a esse desafio não é o que quer a maioria do povo.

Fonte: http://www.brasil247.com/pt/247/artigos/125710/Combater-a-%E2%80%9Cdireitiza%C3%A7%C3%A3o%E2%80%9D-e-o-atraso-%C3%A9-tarefa-das-redes-sociais.htm