Por Joaquim Cartaxo
Pirambu, Fortaleza, Ceará, Brasil |
Marcou o processo
de urbanização brasileira a desproporcionalidade entre a velocidade de crescimento
populacional das cidades e a construção de infraestrutura, vias e implantação
de sistema de transporte de passageiro para atender o aumento contínuo das
demandas urbanas. Tal circunstância forçou pessoas pobres a morar próximo do
local de trabalho em habitações desprovidas de conforto, segurança e higiene.
Consequência
disso?
Produção de
favelas. Aglomerados humanos considerados não-cidade; comunidades pobres
descriminadas pelo preconceito social e racial, submetidas a ideias de
erradicação.
Produto da
urbanização, a favela é cidade. É parte integrada à cidade, mas de modo
perverso; possuidora de identidade territorial, cultural e social como qualquer
bairro; alvo de permanente tensionamento movido pela aproximação e afastamento
do poder público, quanto ao atendimento das demandas socioambientais de seus
moradores.
O Censo 2010/IBGE
registra que 396.370 pessoas residem nas 194 favelas da metrópole Fortaleza. Em
termos populacionais, número maior que o segundo município do Ceará: Caucaia
com 325.441 habitantes. Superior a Juazeiro do Norte – 249.939 habitantes,
Maracanaú – 209.057, Sobral – 188.233.
Tal dimensão
demográfica não pode ser menosprezada na gestão do desenvolvimento urbano
sustentável. A visão “pobrista” e assistencialista não pode continuar
presidindo os programas de inclusão do povo da favela. A visão deve ser do
desenvolvimento socioeconômico construído por lutas, conquistas e conflitos em
que a favela é centralidade, sujeito e não objeto de ação.
Território de
criatividade e ousadia, lugar de potência, multiverso, plural que carece de um
plano de desenvolvimento que congregue os esforços do poder público, iniciativa
privada, organizações da sociedade civil e lideranças comunitárias considerando
a favela como oportunidade. Eis um belo desafio político e social.
Fonte: jornal O POVO - 04/06/2013
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