terça-feira, 27 de setembro de 2011

A CIDADE POLICÊNTRICA






Por Joaquim Cartaxo

Comparando o arranjo de atividades socioeconômicas do centro tradicional e do shopping center quanto à função comercial se anota que no primeiro esse arranjo é construído conforme a dinâmica dessas atividades, ao passo que no segundo é imposto aos comerciantes pelos empreendedores com base em pesquisas mercadológicas. Em um centro tradicional, por exemplo, o comerciante decide onde localizará o seu estabelecimento, diferentemente do shopping center em que a localização, a comunicação visual, as normas de segurança e o horário de funcionamento são determinados pelo promotor imobiliário. Tal determinação significa o predomínio do capital imobiliário e financeiro sobre as atividades de comércio varejista e de serviços.


Outra diferença entre o centro tradicional e o shopping center encontra-se no tempo de constituição de cada um. Produzido por dezenas de comerciantes, um centro de cidade gasta muito tempo para ser implantado e a instalação dos estabelecimentos ocorre em edifícios preexistentes, minimizando seu impacto nas circunvizinhanças que os absorvem e se transformam lentamente. Já um shopping center, sob a lógica de negócio imobiliário, é construído em um ciclo curto como um único empreendimento, visando proporcionar o retorno do investimento o mais rápido possível, ignorando a vizinhança, que não tem tempo de se adaptar ao impacto provocado.


Dado o crescimento urbano, a cidade com um único centro concentrador de atividades socioeconômicas, comparado ao não-centro, está sendo substituída por uma cidade onde se ampliam as distâncias entre o centro tradicional e as novas localizações residenciais; surgem novas áreas de centralidade do tipo shopping centers; aumentam as possibilidades de mobilidade das pessoas, surgem outras forma de compra, além do contanto direto, e o centro tradicional se reduz ao atendimento do consumo popular. Desse modo, surge a cidade policêntrica.

Joaquim Cartaxo é arquiteto e mestre em planejamento urbano e regional.
Publicado originalmente em O POVO 26/09/2011.


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