Quase
que diariamente, se assiste notícias sobre o “comércio ambulante” das grandes
cidades relatando conflitos entre os comerciantes dessa atividade econômica e agentes
de fiscalização e controle em sua lida de aplicar as posturas municipais. Esses
agentes, em determinado dia, retiram essa atividades de logradouros públicos e,
no outro dia, ela está de volta. Isso é comum nos centros antigos dessas
cidades.
Metaforicamente,
parecem realizar um trabalho de Sísifo,
aquele da mitologia grega condenado a empurrar sem descanso, até o alto de uma
montanha, uma enorme pedra que rola encosta abaixo para que o herói mitológico
descesse em seguida até o sopé e empurrasse novamente o rochedo até o alto.
O
comércio ambulante ou lojista é uma atividade econômica de troca, portanto uma
atividade social dado que requer o encontro de pessoas com bens e serviços para
realizarem suas trocas. Anota a arquiteta Heliana Comin Vargas em seu livro
Espaço Terciário que “o ato da troca pressupõe a conversa para que o negócio
seja efetivado”. E mais: a troca resulta da necessidade
ou do desejo pessoal por um bem, que será uma boa negociação ao satisfazer
vendedor e comprador em sua conclusão.
Qualquer
que seja, formal ou informal, a atividade comercial buscará pontos favoráveis a
encontros, portanto lugares onde ocorram e que congreguem atividades sociais pelos
mais diversos motivos; logo, são locais que atraem fluxos de pessoas em busca
de realizar seus interesses e necessidades religiosas, políticas, de
entretenimento e culturais, dentre outras.
Tentar
eliminar o comércio ambulante contraria a história do comércio que registra
como sua primeira expressão coletiva a feira. Assim, considerar o comércio
ambulante solução em vez de problema é condição prévia para reconhecer sua
importância social e econômica na dinâmica do desenvolvimento urbano, pois o
mesmo é real e o segredo do negócio, talvez.
Joaquim Cartaxo é arquiteto e
mestre em planejamento urbano e regional.
Fonte: jornal O POVO
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